Prévia da inflação desacelera para 0,21% em abril

O Estado de S. Paulo

 

Apesar da pressão de aumentos nos preços de alimentos, planos de saúde e medicamentos, a prévia da inflação oficial no País surpreendeu positivamente em abril. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), desacelerou de uma alta 0,36%, em março, para um avanço de 0,21% neste mês.

 

A taxa é a menor para o mês de abril desde 2020 e ficou abaixo das estimativas da maioria dos analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast – que esperavam uma alta mediana de 0,29%. O resultado fez a inflação acumulada em 12 meses arrefecer de 4,14%, em março, para 3,77% em abril, o menor patamar desde julho de 2023.

 

Apesar do resultado melhor que o esperado, ainda não há consenso nas apostas sobre a magnitude de corte da taxa básica de juros, a Selic, na reunião de maio do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. O economistachefe da corretora Monte Bravo, Luciano Costa, cita as incertezas do cenário global e os riscos fiscais, além dos receios com a inflação de serviços, para um corte mais brando, de 0,25 ponto porcentual, no próximo dia 8.

 

“A redução do ritmo de cortes para 0,25 ponto porcentual permitirá ao BC avaliar a evolução das incertezas ao longo dos próximos meses”, diz. Tal estratégia, acredita ela, deve permitir a continuidade do ciclo de redução dos juros, levando a Selic dos atuais 10,75% para 9,50% até dezembro.

 

Outros economistas, porém, avaliam que o resultado do IPCA-15 mantém na mesa a possibilidade de um corte de 0,5 ponto porcentual na Selic em maio, embora o risco de redução de 0,25 tenha crescido recentemente. Para a economista-chefe da gestora de recursos B.Side Investimentos, Helena Veronese, o IPCA-15 de abril sugere um quadro de inflação menos pressionada, permitindo novo corte de 0,50 ponto porcentual na Selic. “É possível se pensar em redução de 0,50 ponto da Selic, mas o que vai definir o tamanho do juro no final são o fiscal e o cenário externo.”

 

Alimentos e remédios

 

Em abril, os gastos 0,61% maiores com alimentos e 0,78% superiores com despesas de saúde puxaram a prévia da inflação do mês. Os preços dos alimentos reduziram o ritmo de alta em relação a março, mas o avanço em abril ainda respondeu por quase 60% de toda a a taxa do IPCA-15. O principal vilão foi o tomate, com uma alta de 17,87%, responsável sozinho por cerca de 25% da inflação de abril.

 

Também houve pressão dos produtos farmacêuticos, que ficaram 1,36% mais caros após a autorização para reajuste de até 4,5% nos preços dos medicamentos a partir de 31 de março, e dos planos de saúde, que encareceram 0,77%.

 

Por outro lado, as famílias gastaram 0,49% menos com transportes. As passagens aéreas ficaram 12,2% mais baratas e houve reduções também na gasolina (0,11%), gás veicular (-0,97%), óleo diesel (-0,43%) e ônibus urbano (-0,05%).

 

A LCA Consultores prevê que o IPCA fechado de abril deve acelerar para 0,36%, com aumentos mais significativos em alimentos in natura, medicamentos, artigos de residência e itens de vestuário. O IPCA-15 repetiria em maio o mesmo avanço, de 0,36%, desacelerando para 0,15% em junho. Fábio Romão, economista da LCA, espera que os preços de alimentos para consumo no domicílio entrem em deflação a partir de maio, tendência sazonal que se intensificaria em junho.

 

Para o fechamento de 2024, a LCA estima que o IPCA fique em 3,7%, dentro portanto do teto de tolerância (de 4,50%) da meta de inflação perseguida pelo BC, que é de 3,0%. Já a Tendências Consultoria Integrada projeta alta de 3,8% no IPCA deste ano. O quadro inflacionário permanece benigno, mas há riscos à frente, alerta Matheus Ferreira, analista da Tendências. “Os sinais de aperto adicional do mercado de trabalho, os estímulos em curso à demanda e as expectativas de inflação desancoradas ainda representam riscos à dinâmica inflacionária”. (O Estado de S. Paulo/Daniela Amorim, Denise Abarca e Maria Regina Silva)