Com atraso, ‘carro voador’ só deve ser viável em 2026

O Estado de S. Paulo

 

O ano de 2024 era o prazo que, em 2021, as empresas de “carros voadores davam para a entrega de suas primeiras unidades a clientes. Passados três anos, alguns protótipos até estão voando, mas ainda não há veículos certificados para operar, e a nova previsão para o lançamento comercial dos eVTOLs (sigla em inglês para veículo elétrico de pouso e decolagem vertical, como é chamada oficialmente a aeronave) passou para 2025, ou 2026.

 

Elétricos e silenciosos, os “carros voadores” são uma das apostas do setor aéreo para se descarbonizar. As empresas que os desenvolvem prometem tirar pessoas dos engarrafamentos com voos cujos preços deverão ser inferiores aos dos helicópteros. Mas, por ora, dizem que desafios no desenvolvimento de uma tecnologia completamente nova e na certificação das aeronaves não permitirão as primeiras entregas comerciais de aeronaves neste ano.

 

Há três anos, quatro startups se destacaram no mercado global ao levantar bilhões de dólares para seus “carros voadores” por meio de fusões com Spacs (companhias que primeiro abrem capital na Bolsa para, depois, buscar um projeto para investir): a inglesa Vertical, a alemã Lilium e as americanas Joby e Archer. Todas elas diziam que entregariam seus veículos em 2024. Essa promessa de prazos curtos, segundo analistas, as ajudou a levantar capital.

 

Entre as quatro, a Joby é hoje a que tem o cronograma mais curto, prevendo o lançamento comercial de seu veículo em 2025. Em novembro do ano passado, a Joby entregou um eVTOL para a Força Aérea americana, e prevê uma segunda unidade neste ano. A experiência com esses protótipos deve ajudá-la a colocar outras no mercado comercial.

 

A inglesa Vertical refez seu cronograma e passou a prever a certificação até o fim de 2026. “Após uma revisão abrangente no ano passado, incluindo extensas discussões e alinhamento com nossa cadeia de suprimentos e reguladores, adiamos nossa data estimada de certificação”, disse, por e-mail, o diretor financeiro da empresa, Stuart Simpson. “Todos os processos de certificação de aeronaves trazem desafios de cronograma e de outros tipos, especialmente quando tecnologias novas estão envolvidas.”

 

A Vertical está montando seu segundo protótipo em escala real. Em agosto de 2023, o primeiro concluiu seus testes de voo de sustentação, pilotados remotamente, com sucesso. Agora, prepara-se para testes de voos com tripulante até junho.

 

A alemã Lilium também trabalha com 2026 como prazo. Questionado sobre a mudança no cronograma, o diretor comercial, Sebastien Borel, disse, por e-mail, que a alteração está relacionada ao status do desenvolvimento, às discussões com os reguladores e à contínua interrupção da cadeia de suprimentos. Todo o setor aéreo vem sofrendo com essas interrupções desde a pandemia, quando pequenas empresas fornecedoras fecharam as portas.

 

Segundo Borel, algumas regulamentações também demoraram para ser publicadas, o que atrasou decisões de projetos. Hoje, a Lilium está na fase de montagem de aeronaves de teste.

 

Procurada, a Archer não respondeu à reportagem.

 

Projeto brasileiro

 

Diferentemente da Archer, da Lilium, da Joby e da Vertical, a Eve – startup criada pela Embraer para investir no setor de eVTOLs – sempre foi conservadora no cronograma e não alterou o prazo previsto para certificar seu “carro voador”, a partir de 2026. (O Estado de S. Paulo/Luciana Dyniewicz)