Produção da indústria tem queda de 0,3% em fevereiro

O Estado de S. Paulo

 

A produção da indústria brasileira voltou a cair em fevereiro. O nível de atividade do setor encolheu 0,3% em relação a janeiro, quando já havia recuado 1,5%. Os dados são da Pesquisa Industrial Mensal, divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado contrariou a maioria das projeções de analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast, que estimavam crescimento mediano de 0,3%.

 

Segundo André Macedo, gerente da Pesquisa Industrial Mensal no IBGE, a indústria mostra perda de dinamismo neste início de 2024, mas o recuo de fevereiro foi mais brando e se manteve pouco disseminado entre as atividades pesquisadas. “Tanto no resultado de janeiro quanto no de fevereiro, você tem uma disseminação maior de atividades no campo positivo. Tem diminuição do ritmo de produção, mas com característica de perda mais concentrada em menos atividades.”

 

Em janeiro, 18 dos 25 ramos industriais pesquisados tiveram expansão – a queda do índice no primeiro mês do ano interrompeu cinco meses de alta na produção do setor. Em fevereiro, 13 atividades registraram crescimento, 10 recuaram e duas ficaram estáveis.

 

O mau desempenho industrial neste início de ano foi puxado pelo setor extrativista, já que a produção da indústria de transformação permaneceu estável (0,0%) tanto em janeiro quanto em fevereiro, apontou André Macedo. A produção da indústria extrativa recuou 6,9% em janeiro e 0,9% em fevereiro, acumulando uma retração de 7,8% no ano.

 

O ponto positivo de fevereiro foi que a produção de bens de capital, que indica investimentos na economia, cresceu 1,8% ante janeiro, mês em que já havia subido 9,3%. A produção de bens de consumo duráveis também se destacou, com crescimento de 3,6% em fevereiro, engatando três meses seguidos de expansão.

 

Macedo, do IBGE diz que as duas quedas no agregado da produção no começo do ano preocupam, mas ressalta que o ciclo de redução na taxa básica de juros (Selic) e a geração de vagas no mercado de trabalho já impulsionam o desempenho em alguns setores, como o de veículos, cuja produção cresceu 6,5% em fevereiro. Outro destaque, a indústria de celulose e papel avançou 5,8%. Estes dois setores, aliás, tiveram o terceiro mês seguido de crescimento na produção, acumulando expansões de 14,2% e 7,8%, respectivamente, no período.

 

Projeções

 

Para a economista Claudia Moreno, do C6 Bank, os dados indicam que o setor seguirá em ritmo fraco ao longo do ano, devendo contribuir pouco para a expansão do PIB brasileiro. “Apesar do fraco desempenho do setor, chama a atenção a alta, pelo segundo mês consecutivo, da indústria de bens de capital. Esse segmento foi o mais impactado pelos juros altos e vinha em uma trajetória de queda desde o começo do ano passado. Não é possível afirmar que o segmento tenha engatado um ciclo de recuperação, já que ele é muito volátil”, disse Claudia, em comentário.

 

Para Rodolfo Margato, da corretora XP Investimentos, os números de fevereiro “corroboram o cenário de recuperação dos investimentos em ativos fixos ao longo de 2024”. “Em resumo, as atividades manufatureiras mais sensíveis às condições monetárias estão em trajetória de recuperação”, escreveu o economista, em nota.

 

Para a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), o cenário permanece adverso para o setor, apesar de uma perspectiva de juros menores. A entidade alerta, porém, que uma possível desaceleração no ritmo de cortes da Selic “penalizaria ainda mais a capacidade produtiva e afetaria a taxa de investimento do País”. (O Estado de S. Paulo/Daniela Amorim)