As novas baixas do petróleo

O Estado de S. Paulo

 

Em agosto, as cotações do petróleo tipo Brent caíram 6,68% e isso tem a ver com a atuação dos grandes bancos centrais, especialmente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos).

 

Durante meses, os dirigentes dos bancos centrais argumentavam que não tinham que combater a inflação com aumento de juros porque suas causas não tinham a ver com excesso de volume de dinheiro na economia, mas com choque de oferta. Foi a guerra na Ucrânia, alegavam eles, que restringiu a oferta de combustíveis e de alimentos porque a Rússia – um dos grandes produtores de gás, petróleo e de trigo – reduziu suas vendas para a Europa em consequência das sanções impostas.

 

Mas foi, finalmente, a aplicação de linha dura na política de juros que passou a derrubar a inflação. Explica-se: as restrições ao crédito e os cortes nas emissões de moeda criaram as condições para redução da atividade econômica (recessão) que, por sua vez, derrubou a demanda de matérias-primas, entre as quais a de petróleo e de alimentos.

 

Por algumas semanas, os analistas duvidaram da verdadeira disposição dos dirigentes dos bancos centrais de continuar puxando pelos juros. Mas, nos últimos dias, o presidente do Fed, Jerome Powell, fez afirmações contundentes de que a política dos juros seria endurecida para trazer de volta a inflação dos Estados Unidos para a meta de 2% em 12 meses. E a ele se seguiram outros dirigentes do Fed.

 

Além da causa de origem monetária, outras também parecem ter contribuído para a baixa. Entre elas, notícias de que a Zona do Euro, principalmente a Alemanha, avançou no equacionamento da crise energética esperada para o inverno no Hemisfério Norte que se avizinha.

 

No entanto, nada garante a continuação dessa queda nem a estabilidade dos preços do petróleo a curto prazo, pelas enormes incertezas à frente. Não há perspectiva para o desfecho próximo da guerra na Ucrânia, o cartel da Opep pode reduzir a oferta de petróleo, como a Arábia Saudita vem sugerindo, e, dependendo dos rigores do inverno no Hemisfério Norte, a demanda de combustíveis pode ser ainda mais premente do que a esperada.

 

Do ponto de vista da economia brasileira, a queda das cotações internacionais, conjugada com certa valorização do real diante do dólar (queda do dólar), aponta para novas reduções dos preços dos combustíveis e, em consequência, novas retrações da inflação interna, como o IGP-M de agosto (queda de 0,70% em relação a julho) está mostrando. No entanto, incertezas no campo fiscal e eleitoral podem mudar a direção destes ventos. (O Estado de S. Paulo/Celso Ming)