“Investiremos R$ 10 bilhões no Brasil”

O Estado de S. Paulo/Mobilidade

 

“Se não for o primeiro a chegar, seja o melhor.” Baseada nessa premissa, a montadora chinesa Great Wall fincou os pés no Brasil, em 2021, querendo disputar cada palmo do mercado com outros “tubarões” da indústria automotiva. E, para ser competitiva, como em outros 60 países, ela foi ao ataque: anunciou investimentos pesados, comprou a fábrica que era da Mercedes-Benz, na cidade de Iracemápolis (SP) – onde pretende produzir 100 mil carros eletrificados por ano –, e já anunciou o lançamento do Haval H6, no início de 2023. Será o primeiro de uma linha de SUVS e picapes.

 

Oswaldo Ramos, diretor comercial da marca, ajudou a pavimentar a chegada da Great Wall. Com larga experiência no setor, Ramos cumpre uma agenda repleta de compromissos, que visam a expansão da empresa no Brasil. Nos momentos de folga, não deixa de acompanhar uma de suas paixões: o Corinthians.

 

Ramos falou sobre os planos da Great Wall nesta entrevista ao Mobilidade:

 

A Great Wall ensaiou a vinda ao Brasil por alguns anos. Por que ela decidiu chegar neste momento?

Oswaldo Ramos: No Salão do Automóvel de São Paulo de 2012, a Caoa [empresa de Carlos Alberto de Oliveira Andrade, morto em 2021] impor tou alguns modelos da Great Wall para exposição. A montadora observou o potencial do mercado brasileiro por 12 anos até definir qual seria o momento certo de se estabelecer por aqui. Não fomos a primeira das novas marcas que chegaram ao País, mas queremos ser a melhor.

 

Este é o momento certo, uma vez que as vendas de carros zero-km estão em baixa no Brasil?

Ramos: A Great Wall é a líder de vendas de SUVS na China, e acreditamos que temos plenas condições de concorrer com Volkswagen, Jeep,toyota e Mitsubishi, no mercado de utilitários esportivos. Não queremos que nosso diferencial seja o preço, porque isso não constrói a imagem da marca.vamos nos destacar pela tecnologia dos veículos eletrificados com uma estratégia ousada: oferecer carros melhores, mais adequados e mais revolucionários.

 

Quais são exatamente essas tecnologias?

Ramos: No Brasil, teremos somente automóveis eletrificados e começaremos com a propulsão híbrida e híbrida plug-in. Há muita coisa em desenvolvimento, como novas plataformas inteligentes de conectividade, módulos de monitoramento do carro, dispositivos de assistência ao motorista – hoje, restritos aos automóveis premium – e câmera de reconhecimento facial, que faz o login do condutor ao entrar no veículo. Os veículos também estarão preparados para suportar a tecnologia 5G. Qual é o investimento da Great Wall para iniciar suas atividades no Brasil?

Ramos: São dois ciclos na fábrica de Iracemápolis (SP), que somam R$ 10 bilhões: R$ 4 bilhões de 2022 a 2025 e mais R$ 6 bilhões entre 2026 e 2032. Até 2024, teremos 133 pontos de vendas que cobrirão todo o País.

 

Qual será o portfólio da montadora no Brasil?

Ramos: Em 2023, o primeiro produto será o Haval H6, ainda na condição de importado. Ele é o SUV mais vendido na China há dez anos, com média entre 30 mil e 40 mil unidades/mês. Em 2021, foram emplacados mais de 370 mil H6. Já fizemos algumas clínicas presenciais e usamos ferramentas digitais para conhecer a percepção dos consumidores brasileiros sobre o carro, em relação à concorrência. Entre outros atributos, eles destacaram design e nível de acabamento. Nosso plano é lançar dez modelos em três anos, todos de nova geração.

 

Recentemente, chamaram a atenção as imagens do Ora Punk Cat, uma espécie de Fusca retrô. A Great Wall pretende lançá-lo por aqui?

Ramos: A Ora é uma divisão de veículos 100% elétricos da holding Great Wall. No Brasil, vamos trabalhar apenas as carrocerias de SUV e picape, os segmentos que mais crescem e não têm estilo retrô.trazer modelos da Ora é um passo para o futuro.

 

Algumas montadoras estão tomando a iniciativa de instalar pontos de recarga no Brasil.a Great Wall pretende fazer o mesmo?

Ramos: Sem dúvida. Queremos contribuir com o desenvolvimento da infraestrutura para alavancar a eletromobilidade no Brasil. Uma das ações é a implantação de 100 pontos de recarga no Estado de São Paulo, até o fim de 2023. É preciso desmistificar temas que dizem respeito ao veículo elétrico, a fim de apoiar o consumidor na decisão de compra, como o risco de ficar parado na rua sem bateria. A segunda etapa do projeto prevê a instalação de eletropostos nos demais Estados. A criação dessa rede acontecerá por operação direta e por meio de parcerias.

 

Esse envolvimento das marcas é essencial no crescimento da eletromobilidade no País?

Ramos: Sim, mas ainda é pouco. Falta mais investimento das montadoras, e parece que o veículo elétrico saiu do mapa da prioridade delas. É preciso fazer muito mais. (O Estado de S. Paulo/Mobilidade/Mário Sérgio Venditti)