Marcopolo está pronta para a retomada do mercado, diz seu presidente

Estradão

 

A Marcopolo se prepara para a retomada do mercado de ônibus. Mesmo depois de enfrentar a pior crise de sua história. Assim como todo setor de ônibus, que sofre com a a forte queda da produção.

 

Como consequência, a Marcopolo fechou a planta que tinha no Rio de Janeiro. Algo que, segundo a empresa, até março de 2020 era impensável. Nesse sentido, a empresa com sede em Caxias do Sul (RS), pretendia contratar mais mil funcionários. Ou seja, até então, a previsão era de que 2020 seria o melhor ano da história da companhia.

 

Segundo o presidente da Marcopolo, James Bellini, a demanda estava em alta em todos os segmentos. Com destaque para o de linhas regulares e turismo. Além disso, ele afirma que várias empresas estavam investindo na renovação da frota. Porém, os planos foram soterrados pela pandemia.

 

Mercado de ônibus no Brasil

 

Nesse sentido, vale relembrar que as vendas de ônibus no Brasil caíram de 22.821 unidades em 2019, para 16.715 unidades em 2020. Ou seja, a retração foi de 26,75%. Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus (Fabus).

 

Da mesma forma, os números continuam negativos em 2021. Porém, começam a apresentar sinais de melhora. Assim, de janeiro a maio foram feitas 7.158 unidades, ante as 7.518 do mesmo período de 2020. Ou seja, a queda é de 4,8%.

 

Seja como for, Bellini acredita que a retomada dos pedidos vai se intensificar no último trimestre. Ou seja, à medida que a vacinação contra covid-19 avance. Nesse sentido, o executivo, que já tomou as duas doses da vacina, diz que voltou a visitar clientes. Bem como passou a receber visitas nas fábricas da companhia.

 

De acordo com Bellini, as conversas presenciais ainda são a melhor forma de se fazer negócio. Segundo ele, o mercado está mais animado. E os clientes, mesmo que de forma ainda tímida, estão voltando a comprar.

 

Assim, a Marcopolo aposta em novos negócios. Nesse sentido, acaba de lançar a nova geração de ônibus rodoviários no País. Ou seja, a linha foi totalmente renovada.

 

Nesta entrevista exclusiva ao Estradão, Bellini fala sobre o que a empresa vem fazendo para enfrentar a crise. Bem como sobre os resultados da Marcopolo Next. Ou seja, a nova divisão criada em apenas dois meses e focada em soluções de biossegurança. Algumas delas passaram a vir de série em todas as gamas de carrocerias da marca.

 

Pandemia

 

Qual foi o impacto da pandemia nos negócios da Marcopolo?

Foi muito pesado. Imagine o que é para a indústria que produz ônibus. Ou seja, um veículo com espaço limitado e que transporta pessoas em meio a um momento em que a recomendação é para não haver aglomerações. Como resultado, a queda da receita em 2020 foi superior a 25% na comparação com 2019. Seja como for, com a vacina estamos conseguindo enxergar uma luz no fim do túnel.

 

A retração causou até fechamento de fábrica e demissão de funcionários…

Esse foi o momento mais complicado para a Marcopolo. Inicialmente, imaginamos que a pandemia fosse durar alguns meses. Logo, fomos retendo a estrutura e segurando a operação para não dispensar ninguém. E conseguimos isso até setembro de 2020. Porém, ao constatar que não havia perspectiva de retomada, foi preciso fazer reajustes. Seja como for, a discussão sobre o fechamento da fábrica do Rio de Janeiro já existia. Ou seja, por causa da queda de vendas que vem ocorrendo desde 2010. Portanto, com a pandemia tivemos de iniciar o processo de fechamento daquela operação.

 

Fábricas

 

Como ficou a estrutura da Marcopolo no Brasil?

Agora, temos três plantas. Ou seja, duas em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, e uma em São Mateus, no Espírito Santo.

 

Desempenho em 2021

 

Como está a produção média da Marcopolo?

Nós divulgamos os resultados por trimestre. Assim, no primeiro trimestre a Marcopolo produziu 2.454 unidades no Brasil. Ou seja, houve queda de 5,4% em relação à produção do primeiro trimestre de 2020. Portanto, antes da pandemia.

 

Como ficará o mercado de ônibus em 2021 na comparação com 2020?

Ainda não fechamos os números do primeiro semestre de 2021. Porém, vislumbramos recuperação. Sobretudo a partir do quarto trimestre. Ou seja, quando deve vai ocorrer a retomada. Assim como a indústria de ônibus, o empresário do setor foi afetado. Porém, as empresas voltaram a utilizar as frotas. Depois dessa volta gradual, virá a renovação de frota. E isso deve ocorrer a partir do último trimestre deste ano.

 

Os resultados estão em linha com o que foi projetado?

Não. Tivemos uma surpresa com a segunda onda da covid-19. Assim, isso foi um balde de água fria. Então, quando os resultados do primeiro semestre forem fechados, devem ficar abaixo do projetado. Mas acredito que no fim do segundo semestre os números vão estar alinhados com o que projetamos para 2021. Sobretudo graças ao avanço da vacinação. Portanto, da retomada dos negócios.

 

Segmentos em crescimento

 

Quais segmentos vêm se destacando em vendas e demandando maior produção?

Em junho, ganhamos um bom lote da licitação do Programa Caminho da Escola. O que nos trouxe um alívio. Porém, grande parte do volume de entregas será em 2022. Seja como for, vamos entregar parte desse volume no último trimestre. Da mesma, alguns clientes já estão relatando o aumento da procura. Até abril, o índice de ocupação de linhas regulares era de 25%. Agora, está em torno de 55%. É uma boa melhora. Porém, ainda está longe dos números de 2019.

 

Seja como for, o setor de fretamento está puxando a produção. Também esperamos que haja recuperação do turismo no último trimestre. Ou seja, com o avanço da vacinação, os negócios no setor de turismo doméstico vão aumentar. Mesmo porque, muitos países ainda não estão aceitando a visita de brasileiros. Além disso, por causa da queda do poder aquisitivo, o brasileiro vai fazer mais turismo dentro do País. Como resultado, isso deve movimentar o mercado.

 

O fretamento “sustentou” a indústria em 2020?

Sim. Esse setor manteve um movimento bem consistente. Assim, foi o que mais cresceu em 2020. Ou seja, em torno de 30%. Porém, neste ano a participação de vendas do segmento agora está mais tímida. Seja como for, está bom.

 

Quais outros segmentos ajudaram a manter as operações no ano passado?

Foram três segmentos. O primeiro está ligado ao Programa Caminho da Escola. Ou seja, é resultado de uma licitação de 2019. Com isso, demandou aumento da produção. O fretamento e as exportações são os outros dois.

 

Exportação

 

No caso das exportações, quais países se destacaram?

Os países da África foram os principais mercados. Com exportações principalmente de ônibus urbanos.

 

Novos negócios

 

Como está o processo de negociar carrocerias em meio à pandemia?

Mesmo com o distanciamento social, a gente contata os clientes constantemente de modo online. Porém, a essência do nosso negócio passa pelo contato presencial. Ou seja, visitar o cliente e trazê-lo à fábrica faz parte da nossa operação. Assim é um negócio em que há muita conversa. Ou seja, de relacionamento entre fábrica e cliente.

 

Assim, estamos nos virando dentro do que é possível. Mas queremos voltar a campo. Eu estou vacinado. Então, tenho ido conversar com os clientes. Assim, já estamos trazendo clientes à fabrica. Ou seja, respeitando todos os protocolos de segurança. Como resultado, percebo maior ânimo dos clientes. Eles ainda não estão comprando em grandes volumes. Porém, estão se preparando para a retomada.

 

Mudança de comportamento

 

O que deve mudar no setor de transporte de passageiro?

O Biosafe (plataforma de segurança biológica da Marcopolo) está cada vez mais presente nos ônibus que estamos produzindo. Desenvolvemos essa plataforma em 2021, Assim, o objetivo é oferecer mais segurança ao passageiro. E é exatamente isso vai fazê-lo voltar a viajar de ônibus. Nesse sentido, 85% dos veículos produzidos desde o lançamento do Biosafe, em junho de 2020, têm algum desses itens de segurança. Os empresários querem transmitir essa segurança aos passageiros.

 

Tecnologia

 

Há itens dessa plataforma de segurança que passarão a ser de série nos ônibus?

Entre as soluções, há materiais antimicrobianos nos tecidos que revestem o veículo e no pega-mão como itens série. Ou seja, em todos os modelos que a Marcopolo produz. Além disso, os clientes vêm pedindo o sistema de desinfecção por lâmpada de UV no ar-condicionado e nos sanitários. Assim, 90% dos clientes pedem esse opcional.

 

Quais tendências e inovações tecnológicas virão nos ônibus nos próximos anos?

Muita coisa boa vem aí. Lançamos nossa nova geração de ônibus rodoviários. Assim, ela traz várias novidades com relação à segurança e conforto. Bem como soluções voltadas à facilidade de manutenção.

 

Como a Marcopolo está se preparando para a eletromobilidade?

Por exemplo, já temos parceiras no Brasil e no México. No Brasil, encarroçamos ônibus da BYD. Além disso, podemos encarroçar qualquer chassi de outras marcas. Nesse sentido, nossa carroceria Attivi Express atende todos os chassis com propulsão elétrica. (Estradão)