Com queda na produção, Renault vai cortar 800 vagas no Paraná

O Estado de S. Paulo

 

A Renault quer cortar 800 vagas na fábrica de São José dos Pinhais (PR) em razão da baixa produção decorrente da queda do mercado de veículos provocada pela crise da pandemia do coronavírus. A empresa emprega 7,3 mil trabalhadores e propôs um Plano de Demissão Voluntária (PDV) que foi recusado em assembleia dos funcionários realizada na sexta-feira.

 

Os trabalhadores consideraram que os incentivos oferecidos pela montadora não são atrativos. A Renault oferece o pagamento de 3,5 a seis salários extras dependendo do tempo de contrato do funcionário (incluindo dois meses de benefício da MP 936), plano médico por um ano e vale-mercado até dezembro, além da primeira parcela da Participação nos Lucros e Resultados (PLR).

 

Para os funcionários que permanecerem na fábrica a proposta é suspender reajustes neste ano e em 2021, e pagar abono de R$ 3,5 mil. Novas contratações a partir de 2022 serão feitas com salário 20% abaixo do atual.

 

“A proposta é ruim para quem sai e para quem fica”, disse o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba, Sérgio Butka. Na assembleia, foi dado prazo até quarta-feira para que a montadora negocie uma nova proposta.

 

A Renault alega que a medida é para minimizar os impactos da crise e, ao mesmo tempo, viabilizar o futuro do negócio. “A crise afeta o mundo todo e não podemos contar com a ajuda do grupo Renault na França”, diz.

 

Para Butka, “se a empresa quer adesões tem de ter um incentivo de verdade, pois o que está oferecendo é muito pouco”. A montadora afirma que se não conseguir adesões ao PDV fará cortes aleatórios. O sindicato promete greve.

 

O complexo no Paraná produz os modelos S a nder o Stepway, Logan, Kwid, Duster, Oroch, Master e Captur e também tem unidades de motores e injeção de alumínio.

 

Queda na produção. O setor automotivo projeta queda de 45% na produção de veículos este ano em relação a 2019, para 1,63 milhão de unidades, previsão que no início do ano era de 3 milhões de unidades.

 

Em junho, a Nissan – parceira da Renault na aliança global Renault/nissan – demitiu 400 pessoas da fábrica de Porto Real (RJ). No complexo da Ford em Camaçari (BA), 1,6 mil funcionários terão os contratos suspensos por três meses a partir de 1.º de agosto, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos local.

 

Na fabricante de caminhões e ônibus Volvo, de Curitiba (PR), cerca de 2,7 mil trabalhadores aceitaram no mês passado proposta de PDV que é similar à apresentada pela Renault em termos financeiros, mas come menos benefícios sociais.

 

Todas as montadoras afirmam estar com excesso de pessoal e novos cortes devem ocorrer principalmente após o fim do programa instituído pela MP 936, que permite redução de jornada e salários e suspensão temporária de contratos de trabalho, com parte dos salários bancada pelo governo.

 

Só as montadoras empregam hoje 124 mil trabalhadores, 5,2 mil a menos do que há um ano. Cada emprego no setor representa entre três a cinco vagas no segmento de autopeças. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)