Produção de carros deve cair 45% este ano

O Estado de S. Paulo

 

A indústria automobilística brasileira prevê um tombo de 45% na produção deste ano, para 1,63 milhão de veículos, incluindo caminhões e ônibus. Significa 1,3 milhão de unidades a menos do que em 2019, resultado da crise provocada pela pandemia do coronavírus. Diante da ociosidade que o corte representará nas fábricas, que em janeiro projetavam número superior a 3 milhões de unidades, já começaram a ocorrer demissões.

 

Se confirmado, será o pior resultado da produção em 20 anos. Pelos cálculos da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a recuperação a níveis pré-covid só deve ocorrer em 2025.

 

Significa que, ao longo desses cinco anos, considerando um cenário de crescimento anual de 11% nas vendas, tendo como base crises anteriores, “a indústria deve ter uma barrigada (perda) de 3,5 milhões de veículos”, diz Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, que ontem apresentou dados do setor em junho.

 

Até lá, a indústria automotiva deve registrar encolhimento de empregos, de investimentos e de desenvolvimento de novas tecnologias. A Anfavea já tenta negociar com o governo, por exemplo, o adiamento de prazos para redução de emissões de poluentes por automóveis e caminhões e de obrigatoriedade de novos itens de segurança previstos pelo programa Rota 2030 a partir de 2022. Moraes não descarta, inclusive, o fechamento de algumas operações.

 

Cortes. Só em junho o setor fechou 1,1 mil vagas, a maioria de funcionários da área de produção. Novos cortes devem ocorrer, principalmente, após outubro e novembro, quando vencem os prazos de garantia de empregos dos acordos feitos com sindicatos com base da MP 936, que estabelecia redução de jornada e salários e suspensão temporária de contratos.

 

“Há um risco importante de demissões, principalmente se não ocorrer uma retomada maior da economia, e não só nas montadoras, mas nos fabricantes de autopeças e nas revendas de veículos”, diz Moraes.

 

As montadoras empregam atualmente 124 mil pessoas, 5,2 mil a menos do que há um ano. As autopeças têm 248 mil funcionários e as revendas, 315 mil.

 

Pelas previsões da Anfavea, as vendas devem cair 40% este ano em relação a 2019, e somar 1,67 milhão de veículos. Para as exportações é esperado um tombo de 53%, para 200 mil unidades. Além disso, fábricas e revendas acumulam estoques de 157,6 mil veículos, equivalentes a cerca de 45 dias de vendas.

 

Segundo Moraes, “as empresas retomaram atividades em ritmo bem inferior ao de antes da pandemia, a maioria em apenas um turno de trabalho, e vão adaptar a produção à demanda”.

 

Em junho, houve melhora significativa das vendas em relação a maio – em razão da reabertura das lojas e da volta dos licenciamentos dos Detrans – e da produção, com a retomada das atividades por parte da maioria das montadoras após manterem as portas fechadas por cerca de três meses.

 

No acumulado do semestre, contudo, foram vendidos 809 mil veículos, o menor resultado para o período desde 2005. A produção somou 729,5 mil, número que só perde para o de 1998. Já as exportações caíram 46%, para 119,5 mil unidades.

 

Indústria quer subsídios para retomada de vendas

 

O setor automotivo segue tentando convencer o governo a adotar medidas para uma retomada mais rápida do mercado de veículos, incluindo subsídios à compra, como têm feito países da Europa. As previsões pessimistas para o ano levam em conta um recuo de 7% no PIB, juro real bem acima da Selic (cerca de 19% ao ano), alta do desemprego e incertezas em relação ao fim da pandemia da covid-19.

 

Entre as propostas estão ainda antecipar a reforma tributária com redução de impostos (o governo fala em desburocratizar, mas manter a arrecadação atual) e devolução dos R$ 25 bilhões em créditos tributários retidos do setor. “Ao fim do dia nós, do setor privado, estamos financiando o Estado”, diz Luiz Carlos Moraes, da Anfavea. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)