Nissan 86 anos de glórias e percalços

O Estado de S. Paulo

 

Há 86 anos, a Nissan nascia no Japão. Criada no dia 1º de junho de 1934, a empresa viveu altos e baixos. Ao longo de oito décadas, sua história teve ascensão, queda, renascimento, escândalo e glórias. Gloria, a propósito, é o nome de um de seus carros.

 

Uma das principais diferenças em relação às suas conterrâneas Toyota e Honda é que, enquanto a primeira surgiu como uma fabricante de teares e a segunda começou fazendo motocicletas, a Nissan já veio ao mundo produzindo automóveis.

 

Os primeiros veículos da empresa levavam o nome Datsun, marca criada em 1914 e que, antes de ser Datsun, era DAT. A sigla era formada pelas primeiras letras dos sobrenomes dos três investidores originais: Kenjiro Den (D), Rokuro Aoyama (A) e Meitaro Takeuchi (T).

 

O objetivo era desenvolver veículos especificamente para as condições do Japão. O mercado era dominado até então por fabricantes norte-americanas, como Ford e General Motors.

 

O primeiro modelo de passeio da marca foi um compacto com motor de dois cilindros e 10 cv de potência. Pelas dimensões, foi chamado de “Datson”, o “filho da Dat”, em português.

 

Mas o uso da palavra inglesa gerou um problema. A pronúncia de “son” é parecida com a da palavra japonesa para “perda”. Por isso, o nome foi alterado para Datsun, que atualmente é a marca de baixo custo da Nissan.

 

Embora a denominação Nissan Motor Co. tenha surgido em junho de 1934, o primeiro carro a sair da linha de montagem da cidade de Yokohama, em 14 de abril de 1935, foi denominado 14. Outra curiosidade é que, apesar do novo nome da empresa, os carros mantiveram a marca Datsun. O Datsun 14 tinha 15 cv e foi produzido nas versões roadster (conversível de dois lugares) e picape.

 

O primeiro a receber o emblema Nissan foi um furgão comercial, em 1937. Segundo informações da empresa, o modelo era “tão grande quanto os carros americanos” e contrastava com os Datsun, compactos.

 

Não se tratava de acaso. Ferramental e projeto eram da marca norte-americana Graham-Paige.

 

A partir daí, alguns (poucos) automóveis começaram a deixar a linha de montagem com a denominação Nissan, enquanto outros (a maioria) mantinham o emblema da Datsun.

 

Por causa da Segunda Guerra Mundial, a produção foi paralisada em dezembro de 1943. Em novembro de 1945 a linha voltou a funcionar e os lançamentos foram retomados.

 

Elétrico

 

O primeiro carro elétrico da Nissan surgiu em 1947. Batizado de Tama, foi desenvolvido pela Tokyo Electro Automobile Co., rebatizada anos depois como Prince Motors.

 

Em 1952, a companhia assinou um acordo de cooperação tecnológica com a inglesa Austin Motor Co. O “olhar para o exterior” sempre esteve entre os objetivos da marca.

 

Em 1958, a Nissan enviou o primeiro lote de veículos para os Estados Unidos. No ano seguinte, inaugurou sua primeira fábrica no exterior, em Taiwan.

 

Em 1960, a marca mostrou, durante o Salão de Turim, na Itália, o Prince Skyline Sport. Considerado o primeiro carro japonês com “estilo italiano”, o modelo foi concebido pelo designer Giovanni Michelotti.

 

Foguete. Os anos 1970 marcaram o lançamento do Lambda 4E-5, o primeiro satélite japonês, cujo foguete foi construído pela Nissan. Nessa década, a empresa começa a intensificar a oferta de modelos esportivos.

 

São dessa época o Nissan R383 e o Datsun 240Z. Este último, conhecido no Japão como Fairlady Z, era um cupê com motor 2.4 de seis cilindros em linha e 210 cv. Atualmente, o “herdeiro” da dinastia é o 370Z.

 

No começo dos anos 1980, a Nissan fez um acordo com a alemã Volkswagen para produzir o sedã Santana no Japão. A essa altura, a empresa tinha uma ampla gama, incluindo compactos (como o March Collet, de 1985), conversíveis de dois lugares (Figaro), sedãs luxuosos (caso do Cedric) e esportivos, como o 300ZX (confira alguns exemplos abaixo).

 

Recuperação. Mas a Nissan entrou em dificuldades financeiras. Para não quebrar, formou uma aliança com a francesa Renault em 1999. No mesmo ano, foi anunciado um plano de recuperação financeira.

 

Poucos carros da gama da Nissan davam lucro. O brasileiro Carlos Ghosn foi deslocado da Renault para o Japão e incumbido de recuperar a empresa.

 

O plano incluiu a demissão de funcionários e o fechamento de fábricas. A empresa saiu da situação falimentar e em 2002 passou a ser uma das mais lucrativas do setor no mundo.

 

No fim de 2018, o executivo foi preso no Japão, sob alegação de falsificar a contabilidade e desviar dinheiro. Após uma fuga no ano passado, Ghosn foi para o Líbano, onde vive atualmente.

 

A Nissan está no Brasil desde 2000. Em 2002, passou a fazer a picape Frontier, seu primeiro modelo nacional, em uma linha de montagem na planta da Renault em São José dos Pinhais (PR). Em 2014, inaugurou a fábrica em Resende (RJ), onde são feitos March, Versa e Kicks. (O Estado de S. Paulo/Hairton Ponciano)