Autos traça cenários para a indústria automotiva do futuro

A Tarde

 

O carro do futuro está nascendo hoje, no movimento da indústria automotiva global em busca de inovação disruptiva. O avanço exponencial da tecnologia e as transformações em curso no planeta sinalizam para novos modelos, em sintonia com as mudanças no comportamento das pessoas. Não é preciso fazer grandes pesquisas para saber que os modelos devem ser cada vez mais tecnológicos, compactos e sustentáveis.

 

As tendências apontam não apenas para a eletrificação, que está ocorrendo de forma acelerada, mas para outros caminhos da tecnologia. Hoje, já há casos de utilização das impressoras 3D na fabricação de modelos elétricos.

 

O LSEV é um carro elétrico feito com impressão 3D, que pode chegar ao mercado da Ásia e da Europa no próximo ano. O modelo é até cinco vezes mais forte que o convencional e todos os componentes visíveis, como portas, painel, carcaças e para-choques, são impressos, mas leva apenas três dias para ser fabricado. Seu nome é uma abreviação para “Low-Speed Eletric Vehicle”: veículo elétrico de baixa velocidade.

 

Impressão 3D

 

“A manufatura aditiva, conhecida como impressão 3D, avançou na última década, transformando a maneira como os produtos são projetados, desenvolvidos, fabricados e distribuídos. Para a indústria automotiva, esses avanços abriram as portas para novos designs: produtos mais limpos, leves e seguros, prazos de entrega mais curtos e custos mais baixos”, afirma o mentor de tecnologia e inovação da SAE Brasil para a área de manufatura avançada, Douglas Pacifico. A SAE é uma associação que congrega engenheiros, técnicos e executivos, com a missão de disseminar técnicas e conhecimentos relativos à tecnologia da mobilidade.

 

“As montadoras e seus fornecedores ainda usam a manufatura aditiva, principalmente para a produção de protótipos, porém o desenvolvimento tecnológico permitirá a fabricação direta em alto volume no futuro. Veículos como o LSEV, cuja carroceria e materiais de acabamento são quase inteiramente produzidos em impressoras 3D, são claros exemplos do potencial dessa tecnologia”, avalia Douglas Pacifico.

 

Eletrificação

 

Por volta de 2030, os países da União Europeia, Estados Unidos, China, Rússia, Índia e, inclusive, o Brasil estarão com sua plataforma de mobilidade elétrica implantada, segundo as suas potencialidades. A estimativa é do instrutor da SAE Brasil, Wanderlei Marinho. “Com mais de 2% das vendas mundiais de carros, a frota de elétricos está se expandindo rápido. As projeções indicam que a eletrificação ganha sustentabilidade”, avalia o pesquisador, com base nas estatísticas da International Energy Agency – IEA-EUA.

 

Ele faz referência aos números de um artigo publicado em agosto de 2019, pelo Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE): “O Brasil fechou 2018 com um total de 10.590 veículos elétricos e híbridos (combinação de motores elétricos e de combustão interna). Esse número representa crescimento anual médio, desde 2012, de 112% ao ano. Após anos de introdução gradual, veículos elétricos e híbridos são quase 0,05% da frota existente e em 2018 representaram 0,2% das vendas totais no país, cerca de quatro mil veículos”.

 

De acordo com as projeções, “o mercado para veículos elétricos no Brasil pode chegar a 30 mil unidades nos próximos cinco anos, o que representa cerca de 20% do total de carros vendidos, com preço acima de R$ 125 mil, ou 0,9% do total de vendas de veículos em 2023”.

 

“Nos principais mercados do mundo, os planos de crescimento da mobilidade elétrica estão em franca implantação. Prevê-se que haverá em alguns países a gradual retirada de circulação dos veículos movidos a combustão”, afirma Marinho. Para ele, os híbridos participarão da transição, até que os carros puramente elétricos passem a ser majoritários no mercado”.

 

Nissan

 

Com sede global no Japão e no Brasil desde 2012, a Nissan aposta em ações em parceria com governos, empresas e universidades para a promoção dos veículos com zero emissão. Em 2019, a empresa trouxe para o mercado brasileiro o seu modelo 100% elétrico mais vendido no mundo, o Nissan Leaf, que conta com um kit de recarga para casa e rua. O kit tem carregador residencial homologado pela Nissan e a instalação incluída.

 

Em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a Nissan estuda soluções futuras para as baterias usadas de veículos elétricos. Já com o Parque Tecnológico de Itaipu e o Instituto de Tecnologia Aplicada e Inovação, a missão é desenvolver estações de carregadores veiculares e sua integração ao sistema de energia nacional.

 

Com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a finalidade é o estudo do uso do bioetanol como opção para a eletromobilidade. “Recentemente, a Nissan e o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) firmaram um acordo de parceria para o desenvolvimento tecnológico do uso do bioetanol para veículos movidos a célula de combustível, informou a assessoria de comunicação da montadora.

 

Para a Nissan, o grande desafio à evolução dos elétricos no Brasil é a definição de uma política clara de apoio a essa evolução. “Acreditamos que a infraestrutura de recarga atrairá investimentos da iniciativa privada”. Outra barreira de acesso é o preço. Em geral, o preço de entrada desse tipo de veículo é mais que o dobro do preço do carro médio no país.

 

Mobilidade

 

As mudanças no comportamento do consumidor têm impacto na indústria automotiva. Tanto que hoje se discutem vários conceitos de mobilidade e uso do automóvel. Há quem faça uso extenso do carro sem propriedade, outros compartilham e fazem uso eventual, e algumas pessoas utilizam veículos e não renunciam à propriedade. A pandemia da Covid-19 pode trazer algumas mudanças nesse aspecto depois da quarentena.

 

“Todos os conceitos irão coexistir sempre, pois eles não são excludentes, ao contrário, são complementares; assim, seria especulativo definir a participação de cada modalidade ao longo do tempo”, ressalta o presidente da SAE Brasil, Camilo Adas. Há uma tendência em se dizer que gerações mais novas não valorizam a posse do carro, o que pode ser verdade. “A questão que fica é a velocidade com que essa tendência mudará o mercado, de forma significativa”, pontua.

 

“O importante é garantir que todas as modalidades possam estar presentes para suprir as necessidades do mercado, com igualdade de deveres e direitos, responsabilidades e obrigações, assimilando as transformações que estão acontecendo na indústria e na sociedade”, resume Adas. (A Tarde/Núbia Cristina)