A Indústria automotiva precisa mudar de marcha pós-coronavírus

IG Carros

 

A montanha-russa do setor automotivo vai enfrentar uma nova baixa: a pandemia global do coronavírus, que vem obrigando fábricas do mundo todo a fecharem as portas. Algumas montadoras estão anunciando a utilização de suas instalações para produzir equipamentos médicos. Trata-se de uma medida necessária para proteger vidas, inédita e sem base de comparação, mas anuncia um possível colapso da indústria automotiva. Na China, país onde a pandemia começou e maior mercado do mundo, as vendas de automóveis retraíram 92% no início do ano.

 

No Brasil, a indústria automotiva vinha se recuperando depois de anos difíceis. A venda de veículos novos cresceu 8,65% em 2019, quando foram emplacados 2,78 milhões de veículos no País. Não há previsões para 2020, mas a tendência, claro, é a recessão e se preocupar (e evitar) com o desemprego em massa nas montadoras, no setor de autopeças, em concessionárias, locadoras e outras áreas correlatas.

 

A curto prazo é uma tragédia. Mas, a médio prazo, crises podem acelerar novas gestões e inovações. Entre os incentivos fiscais da indústria nacional, por exemplo, está o Rota 2030, para investimento em tecnologia. Contudo, os carros produzidos aqui não passam de remodelações, salvo raras exceções. Se o consumidor quiser tecnologia de ponta. Hoje, tem como opção os importados caríssimos.

 

Para efeito de comparação de efeito pós-crise do setor, vale lembrar da crise do petróleo, que promoveu forte recessão econômica no mundo na década de 70. No mercado brasileiro, em 1979, a indústria automobilística comemorava a marca de um milhão de veículos produzidos, um recorde na época. No ano seguinte esse número caiu para 580,7 mil veículos, 57,2% a menos.

 

Foi um período difícil, mas que, a médio prazo, alavancou a abertura comercial e acelerou o Proálcool (Programa Nacional do Álcool), criado para incentivar a tecnologia do etanol como combustível substituto à gasolina. Pode-se dizer que os milhares de carros flex no País atualmente são consequência daquela crise.

 

Quem sabe a recessão impulsione, finalmente, a transformação causada pelos carros eletrificados no Brasil, realidade já em curso na Europa, nos Estados Unidos e na China. Nesse sentido, por aqui, a Toyota surge como uma das exceções: com preço pouco acessível, a empresa lançou o Corolla com motor híbrido flex, e oferece ainda neste segmento o importado RAV4, além do Prius.

 

Em janeiro, as vendas desses modelos Toyota somaram cerca de 1.300 veículos. Muito pouco, mas acima de todos os modelos não eletrificados da Peugeot, Mitsubishi, Audi, Volvo e outros importados. No total, os veículos híbridos e elétricos somaram 1.600 unidades vendidas em janeiro no mercado brasileiro, apenas 1% do total vendido no mês, aí incluindo carros, picapes e caminhões convencionais.

 

Outra mudança já em curso é a de estratégia de comunicação. Até o momento, foram cancelados todos os salões de automóveis, inclusive. O formato obsoleto e caro do evento deu lugar a apresentações digitais com os lançamentos de. várias marcas no mundo.

 

Apesar do clima de incertezas causado pelo coronavírus, a General Motors apresentou nesta semana no Brasil o principal lançamento da marca de 2020: o novo Tracker, via streaming. Nada de grandes e dispendiosas festas com centenas de revendedores e jornalistas automotivos. Uma nova forma de se comunicar para um novo público e tempo que está chegando.

 

Entre as transformações pós-pandemia na indústria automotiva, há ainda a perspectiva de aumento das vendas digitais. A Tesla, que usa predominantemente essa forma de venda, é o maior exemplo. A montadora mais valiosa do mundo acaba de registrar 1 milhão de veículos elétricos produzidos com uma estrutura leve e dinâmica ação nas redes sociais. (IG Carros/Celio Galvão)