À sombra da pandemia

Correio do Estado/AutoMotrix

 

Ao que tudo indica, a paralisação nas fábricas automotivas do Brasil devido à pandemia do coronavírus no mundo deverá ser total. Ninguém sabe ao certo por quanto tempo, quais serão os reflexos econômicos no setor e muito menos onde está a luz no fim do túnel – se é que ela existe – na maior crise planetária da saúde desde a proliferação descontrolada da Aids nos anos 80. “Com foco na segurança e na saúde dos familiares e funcionários das montadoras associadas à Anfavea, informamos que, em função do agravamento da crise gerada pelo Covid-19, todas as nossas empresas estão analisando e se preparando para tomar ações de paralisação das suas fábricas no Brasil, e discutindo caso a caso com seus respectivos sindicatos”, pronunciou-se a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), representante das montadoras com produção automotiva dentro do país. Em termos de vendas, o mercado sentirá o impacto nos resultados a partir de abril, pois o abastecimento das concessionárias para março já estava assegurado.

 

Todas as grandes fabricantes instaladas no Brasil anunciaram paralisação em suas unidades. Mas, por enquanto, a parada na produção de carros e de autopeças não é total, “Ou as empresas param até o próximo dia 30 ou nós paramos as empresas. Não adianta uma empresa parar e outra não, pois muitas fabricantes de autopeças fornecem para mais de uma montadora”, avisou o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que defende os empregados do maior polo automotivo do país. Líder de mercado no Brasil há quatro anos com a marca Chevrolet, a General Motors anunciou que dará férias coletivas para todos os seus empregados no país a partir de 30 de março. “A medida tem como objetivo ajustar a produção à demanda, já que a pandemia do novo coronavírus deve prejudicar toda a cadeia de consumo”, explicou a empresa em nota divulgada na último dia 18. Assim, as fábricas de São José dos Campos, Mogi das Cruzes, São Caetano do Sul (SP), Gravataí (RS) e Joinville (SC) – de motores e câmbios – ficarão paradas de 30 de março a 12 de abril.

 

A Volkswagen do Brasil comunicou suspensão de atividades de todas as suas unidades no país a partir do dia 23 de março por três semanas. Até o dia 30 de março, os empregados da área administrativa continuarão em trabalho remoto e os da linha de produção, em folgas administradas por banco de horas. A partir de 31 de março, os empregados estarão em férias coletivas por duas semanas. Ambas as medidas são parte das ferramentas de flexibilização previstas em Acordo Coletivo de Trabalho. O Grupo Volkswagen Argentina, em conformidade com os regulamentos emitidos pelo governo do país, anunciou a suspensão das atividades de produção para seus centros industriais em Pacheco e Córdoba, de 20 a 31 de março.

 

Já a Fiat Chrysler Automóveis (FCA) iniciou no final da semana passada a diminuição gradual da produção em suas fábricas de Betim (MG), Goiana (PE) e Campo Largo (PR), tendo a paralisação total prevista para ocorrer até 27 de março. A retomada das atividades pode ocorrer em 21 de abril. Segundo a direção da FCA, a continuidade da produção no processo de redução gradual até a paralisação total se dará mediante rigorosas medidas preventivas já adotadas para garantir a saúde e integridade dos empregados.

 

A Ford suspenderá temporariamente a produção em suas fábricas de Camaçari (BA), Taubaté (SP) e da Troller em Horizonte (CE), além da unidade de Pacheco, na Argentina. A medida entrou em vigor no Brasil em 23 de março. Na Argentina, será na quarta-feira, dia 25. De acordo com a marca norte-americana, a Ford vem tomando todas as medidas possíveis para reduzir o impacto do coronavírus, adotando o trabalho remoto, com exceção das funções críticas que não podem ser feitas fora das instalações da empresa. “A maior prioridade da Ford é sempre a segurança e o bem-estar de nossos empregados e parceiros. Essa ação adicional ajudará a reduzir o risco de disseminação do Covid-19, ao mesmo tempo em que potencializa a saúde dos nossos negócios durante esse período desafiador para toda a economia”, afirmou Lyle Watters, presidente da Ford América do Sul.

 

Enquanto a Renault do Brasil informa que suspenderá a produção no Complexo Ayrton Senna, em São José dos Pinhais (PR), no período de 25 de março a 14 de abril, a Mercedes-Benz também anunciou férias para todos seus empregados das fábricas de São Bernardo do Campo, Iracemápolis (SP) e Juiz de Fora (MG) a partir do dia 30 de março. “A iniciativa foi feita pensando nos cuidados com todos os seus colaboradores e familiares e com o objetivo de prevenção ao Covid-19”, justifica a marca alemã. A empresa deverá ficar paralisada de 25 de março a 22 de abril. Para a Mercedes-Benz do Brasil, de quarta-feira (dia 25) até sexta-feira (dia 27), os empregados terão folga, a ser debitada do banco de horas. A partir do dia 30, a empresa entrará em férias coletivas de vinte dias. O retorno ao trabalho está previsto para 22 de abril, dependendo da situação no país.

 

A Hyundai fechou a fábrica em Piracicaba (SP) a partir da sexta-feira da semana passada (dia 20), com previsão de retorno das atividades para segunda-feira (dia 23). Por outro lado, a empresa informou que, conforme a evolução da doença, estuda algumas medidas a serem implementadas, uma delas, a antecipação de férias coletivas para os empregados.

 

A Toyota suspendeu a produção de suas quatro fábricas (São Bernardo do Campo, Sorocaba, Indaiatuba e Porto Feliz, todas no Estado de São Paulo) a partir do dia 24 de março com retorno previsto para 6 de abril. Conforme a direção da empresa, a Toyota continuará avaliando a situação momento a momento, seguindo as orientações das autoridades locais e, principalmente, colocando a saúde e o bem-estar de seus colaboradores e de seus familiares em primeiro lugar. A Honda Automóveis do Brasil comunica que, a partir da próxima quarta-feira (dia 25 de março), as atividades produtivas em Sumaré e Itirapina (SP) passarão por ajustes devido ao impacto da pandemia do Covid-19. A marca suspenderá a produção por vinte dias, até 14 de abril, podendo ser postergado para 27 de abril. Já na fábrica da Caoa Chery em Jacareí (SP), as atividades produtivas serão interrompidas gradualmente a partir do dia 23 até a paralisação completa no dia 27 de março.

 

Entre as fabricantes mais tradicionais no país, a Nissan e a PSA Peugeot Citröen ainda não tomaram nenhuma decisão até o momento no que diz respeito à paralisação das atividades. A Nissan informou que sua fábrica em Resende (RJ), continua em operação, com medidas de prevenção, como reforço na limpeza, aumento dos pontos de higienização e distanciamento de mesas e cadeiras no refeitório. O pessoal de escritório passou a trabalhar remotamente. (Correio do Estado/AutoMotrix/Daniel Dias)