Petrobras desaba 60% em quatro semanas: está na hora de comprar?

Portal Exame

 

Recorde de lucros e de produção, desinvestimentos em áreas secundárias e redução de custos. Neste início de ano, o cenário da Petrobras não podia soar melhor aos ouvidos dos investidores. Todo esse otimismo se refletiu no sucesso da oferta secundária de ações (follow-on) da empresa, realizado no início de fevereiro. No processo, cada ação saiu por 30 reais, totalizando 22 bilhões de reais para o BNDES, que fez a oferta. Hoje, cada papel vale menos de 15 reais.

 

De lá para cá, a história mudou. Os casos de coronavírus (Covid-19) romperam as fronteiras dos países asiáticos e ameaçaram a demanda mundial de petróleo. Com o preço da commodity em queda, não houve consenso entre a a Rússia e os países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) sobre os níveis de produção. O desentendimento fez a Arábia Saudita tomar uma decisão drástica: derrubar o preço do barril de petróleo e aumentar a produção. No fim de semana, os sauditas deram sua última cartada, anunciando que vão vender o barril de petróleo por 25 dólares – metade do valor de semanas atrás.

 

O preço, que torna insustentável a extração de petróleo em diversos países do mundo, teve forte impacto nas ações da Petrobras. Nesta segunda-feira 16, os papéis ordinários da companhia chegaram a desvalorizar 16,9%. Desde o follow-on, o ativo acumula perdas de 52%. Em comparação com a máxima de 20 de fevereiro, a desvalorização supera 60%.

 

“Se não fosse pelo coronavírus e pela guerra de preços, a ação da Petrobras estaria entre as maiores altas do Ibovespa”, comentou Sandra Peres, analista da Terra Investimentos. No entanto, os papéis da estatal figuram entre as dez maiores quedas do índice, acumulando desvalorização de pouco mais de 50%.

 

O fundo de investimento CAIXA FMP FGTS Petrobras II, de trabalhadores que decidiram em 2000 usar o dinheiro do fundo de garantia para comprar ações da estatal, também sofreu fortes perdas. Do início de 2016 a fevereiro de 2020, o fundo acumulou rentabilidade de 266,46%. A alta, no entanto, foi reduzida a apenas 45% até último dia 12, de acordo com dados do site Mais Retorno.

 

Para quem comprou as ações da Petrobras no follow-on, a recomendação de Eduardo Guimarães, analista da Levante, é não vender os papéis. Mas “aumentar a posição é muito arriscado” no atual momento. Segundo ele, a falta de previsibilidade para o preço do barril de petróleo é um grande risco para o investidor. “Não parece sustentável manter o preço do petróleo nesse patamar. Tanto a Arábia Saudita quanto a Rússia estão queimando recursos. Mas isso pode continuar por um tempo indeterminado”, disse.

 

Se o preço do barril de petróleo permanecer abaixo dos 30 dólares por muito tempo, os resultados da Petrobras podem ser comprometidos. “É difícil mensurar até quando a empresa vai aguentar”, comentou Sandra Peres.

 

Segundo dados da Rystad Energy UCube disponibilizados pela Infinity, o Brasil está entre os países com maiores custos de extração de petróleo, pagando 35 dólares o barril. Arábia Saudita e Rússia pagam 19,21 dólares e 7,98 dólares, respectivamente.

 

Caso os dois países entrem em um acordo para reduzir a produção de petróleo, as ações da Petrobras podem ter forte valorização, segundo Sandra Peres. Porém, ela também acha arriscado comprar os papéis da companhia neste momento. “O preço está bem baixo em relação ao patrimônio da empresa, mas, se a demanda [por petróleo] se mantiver contraída e essa guerra de preços continuar, a ação poderá cair mais ainda. Não se sabe onde é o fundo do poço.”

 

Outro fator que poderia servir de gatilho para as ações da Petrobras é a volta de investidores estrangeiros para a bolsa brasileira. “Quando o estrangeiro vem, ele compra os papéis com maior liquidez, como é o caso dos da Petrobras”, disse Eduardo Guimarães. Mas Guimarães não espera que eles voltem tão cedo. “A aversão a risco aumentou muito no mundo. Nos EUA, teve um movimento muito grande para títulos públicos. Talvez demore para voltarem para o Brasil”, disse. Somente entre janeiro e fevereiro deste ano, a fuga de capital estrangeiro da bolsa chegou a 45 bilhões de reais. (Portal Exame/Guilherme Guilherme)