Centros de comércio popular em São Paulo registram queda de até 60% nas vendas

O Estado de S. Paulo

 

União dos lojistas da 25 de março afirma que, em função do surto de coronavírus, movimento é menor a cada dia e que empresários da região vão precisar de carência maior para pagar tributos; no Bom Retiro, uma das saídas tem sido intensificar o comércio online

 

Os principais centros de comércio popular de São Paulo, conhecidos pelas grandes aglomerações, viram suas vendas despencarem até 60% nos últimos dias por causa do coronavírus. Com medo da pandemia, a queda na movimentação de consumidores deixou as ruas da região irreconhecíveis, com lojas praticamente vazias e vendedores usando máscaras para evitar contaminação. Alguns clientes também usavam a proteção.

 

Na Rua 25 de Março, principal centro popular de compra de São Paulo, as vendas entre quinta-feira e ontem caíram 60%, segundo a união dos lojistas da região (Univinco). O diretor da associação, Marcelo Mouawad, diz que a movimentação dos consumidores tem ficado mais fraca a cada dia, e que nesta semana a situação se intensificou.

 

Segundo ele, o impacto econômico já está evidente e exigirá medidas firmes e consistentes por parte do governo para evitar uma quebradeira no setor. “Se não houver uma carência maior para pagar as contas (tributos), a situação vai ficar complicada”, diz o executivo, que também é lojista na região.

 

Ele destaca que, por enquanto, o setor não trabalha com a possibilidade de fechamento do comércio popular. “Estamos nos espelhando nos Estados Unidos, onde o número de casos é maior e ainda não adotaram essa medida.”

 

No Bom Retiro, importante centro popular de vestuário de São Paulo, as vendas da última sexta-feira até sábado caíram entre 25% e 30%. Esse movimento foi intensificado na segunda-feira e ontem, quando o movimento ficou entre 30% e 40% abaixo do normal.

 

O vice-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas do Bom Retiro, Nelson Tranquez, afirma que uma das saídas tem sido intensificar as vendas online, pelos sites, redes sociais e WhatsApp. “Já tem sido um canal importante para os empresários da região e deve crescer ainda mais nesse período de crise.” Segundo ele, o comércio online já representa algo entre 20% e 25% das vendas da região.

 

Para Tranquez, a crise atual é complicada porque as empresas ainda não tinham conseguido se recuperar da recessão dos últimos anos. “Desde 2014, ano após ano, vivemos em situação delicada, com alguns respiros. Mas não nos recuperamos.” Nesse tempo todo, completa, as empresas enxugaram a estrutura, reduziram quadro de funcionários e cortaram custos, mas poucas têm capital de giro para aguentar um período longo de crise.

 

Em relação ao estoque das lojas, ele não acredita que faltarão produtos. Segundo o executivo, o setor havia acabado de lançar a coleção Outono/Inverno e a produção está em andamento. “O que pode ocorrer é que quem esperava produzir mais pode reavaliar o cenário.”

 

Mouawad, da Univinco, também afirma que, por enquanto, não há problemas de abastecimento, apesar de boa parte das mercadorias serem importadas da China. Segundo ele, apenas alguns casos pontuais de lojas de celular estavam sofrendo com a falta de peças. No geral, o estoque dura dois meses. “Assim, o abastecimento estaria garantido até maio.”

 

Um levantamento feito pelo Instituto de Economia Gastão Vidigal da Associação Comercial de São Paulo, divulgado ontem, reflete essa realidade dos centros de comércio popular. Com menos pessoas circulando em ambientes públicos, como shoppings, as consultas para vendas a prazo e à vista tiveram queda de 16,3% só no último fim de semana comparado ao fim da semana anterior.

 

“Se não houver uma carência maior para pagar as contas (tributos), a situação vai ficar complicada”, Marcelo Mouawad, diretor da Univinco. (O Estado de S. Paulo/Renée Pereira)