Rede de proteção social da Europa alivia custo da pandemia

O Estado de S. Paulo/The New York Times

 

Manter seu salário enquanto cuida de um filho em quarentena. Exercer o direito de não trabalhar se teme contrair uma doença. Receber um auxílio-doença por até seis meses. É conhecido o fato de que a Europa adota políticas sociais bastante generosas. Mas para especialistas esses programas sociais e as regras trabalhistas protetoras constituem uma espécie de vacina contra o custo econômico imposto pelo coronavírus, ou seja, a recessão.

 

Os sistemas de saúde universal da Europa ajudam a impulsionar a economia e dão suporte aos gastos de consumo em meio a uma epidemia porque as pessoas não estão preocupadas se vão pagar uma conta alta se adoecerem. Líderes de governo e bancos centrais declararam que farão tudo o que for possível para evitar uma recessão.

 

Mas, segundo economistas, as medidas mais eficazes de curto prazo são os programas e normas existentes de proteção dos trabalhadores, uma assistência médica barata e o auxílio às empresas para enfrentarem a situação. Garantias de que os empregados não terão de escolher entre cuidar da sua saúde e pagar seu aluguel é um fator psicológico crucial diante do fechamento de escolas e empresas por todo o continente como também o cancelamento de viagens e reuniões.

 

Em cinco de março, a Itália anunciou um pacote de 7,5 bilhões de euros (cerca de US$ 8,5 bilhões) de ajuda às empresas e famílias atingidas pelo coronavírus, além dos 900 milhões de euros anunciados na semana anterior. Governos de muitos países europeus compensam os gastos com auxílio-doença arcados pelas empresas e prestam auxílio a companhias de pequeno porte que vêm lutando para sobreviver.

 

Muitos governos europeus exigem das empresas que assumam algum tipo de licença paga por motivo de doença. Alemanha, França, Dinamarca e Holanda são alguns países onde os empregados têm o direito de receber o salário integral em alguns casos durante, pelo menos, seis semanas, se estiverem em quarentena ou seu patrão ordenou que ele fique em casa. Na França, os empregados também podem sair do emprego se acharem que sua saúde e segurança correm risco sem que o seu salário seja descontado ou serem punidos de algum modo.

 

Em seu sindicato no Museu do Louvre, em Paris, os funcionários decidiram em votação parar de trabalhar em 1º de março, alegando seu temor de o vírus ser disseminado por visitantes do museu. Eles retornaram ao trabalho em quatro de março depois de as autoridades anunciarem medidas de proteção à saúde. Os custos econômicos acarretados pelo vírus já são tangíveis. O cancelamento do Salão de Genebra 2020 privou o setor automotivo europeu de uma das suas principais vitrines e os milhões gastos com os luxuosos estandes de exposição dos veículos foram perdidos.

 

Alguns governos vêm adotando medidas mais agressivas do que outros para compensar o estresse financeiro, oferecendo isenções fiscais, ampliando os prazos de pagamentos de impostos e facilitando o acesso a linhas de financiamento. Mas as medidas vão até aí. Na Itália, a dívida do governo excede e muito a produção econômica anual e Roma não pode se permitir perder a confiança dos investidores de títulos.

 

“No curto prazo, o governo pode ajudar”, disse Carl Weinberg, da High Frequency Economics, com sede em White Plains, Nova York. “Mas não poderá sustentar as pessoas para sempre. No final, alguém vai ter de pagar a conta”. (O Estado de S. Paulo/The New York Times/Liz Alderman, tradução de Terezinha Martino)