O Estado de S. Paulo
Os mercados financeiros mundiais viveram ontem mais um dia de pânico, mesmo após ações anunciadas por diversos bancos centrais, incluindo os do Brasil e dos Estados Unidos, para dirimir os efeitos econômicos adversos do coronavírus. Cada vez mais países fecham as fronteiras, aumentando a sensação entre os investidores de que tudo que foi anunciado até agora, tanto pelos BCs como por governos, é pouco para compensar o baque na atividade econômica.
Nesse ambiente, as Bolsas de São Paulo e de Nova York experimentaram novas paralisações para evitar quedas mais acentuadas (os chamados “circuit breakers”), enquanto o dólar terminou a sessão acima dos R$ 5 pela primeira vez desde a implementação do Plano Real.
As ações extraordinárias dos BCs começaram no domingo à tarde (hora de Brasília), quando a autoridade monetária da Nova Zelândia reduziu os juros de 1% para 0,25%. Depois, foi a vez do Federal Reserve, dos EUA, baixar a taxa básica para perto de zero, suspender o compulsório bancário e anunciar um programa coordenado com outros BCs para aumentar a liquidez e outro de compra de títulos de US$ 700 bilhões.
Depois do Fed, o BC do Japão ampliou as compras de bônus, um dos seus principais instrumentos para injetar dinheiro no mercado, enquanto o da China despejou o equivalente a mais de US$ 14 bilhões em estímulos. Chile e Egito também baixaram juros.
No Brasil, uma parte do mercado até apostou que viria um corte extraordinário na taxa de juros, atualmente em 4,25%. Mas esse movimento deve ficar mesmo para o fim da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) amanhã. A aposta agora é que seja anunciado um corte de 0,5 ponto porcentual, mas há muitos analistas prevendo uma redução maior, de 1 ponto porcentual.
O BC brasileiro anunciou medidas para facilitar a renegociação de até R$ 3,4 trilhões em empréstimos por famílias e empresas e ainda ampliar a capacidade de crédito do sistema financeiro em até R$ 637 bilhões.
Mas todas essas operações não trouxeram alívio aos mercados mundiais. As Bolsas da Ásia e da Europa tiveram fortes baixas. Em Nova York, os principais índices tiveram os circuit breakers acionados logo no início da sessão, o que também ocorreu na Bolsa brasileira pela manhã – no caso brasileiro, o sistema é acionado quando a Bolsa perde 10%, e os negócios ficam paralisados por 30 minutos.
Após essas paralisações, as Bolsas no Brasil e nos EUA retomaram os negócios com quedas menos intensas. Mas quase no fim do pregão, uma declaração do presidente americano, Donald Trump, azedou de vez os negócios. O chefe da Casa Branca disse que o país “pode estar entrando em recessão” e que a realidade do coronavírus deve permanecer até “julho e agosto”.
Dessa forma, em Nova York, o Dow Jones despencou 12,93%, o Nasdaq derreteu 12,32% e o S&P 500 recuou 11,98%. No Brasil, o Ibovespa mergulhou 13,92%, e terminou em 71.168,05 pontos.
Câmbio
Todo o estresse nas Bolsas se refletiu, aqui no Brasil, na forte valorização do dólar ante o real. Além da crise decorrente do coronavírus, pesou ainda nos negócios o clima ruim entre o governo do presidente Jair Bolsonaro e o Congresso.
O dólar à vista fechou a R$ 5,0523, em alta de 4,90%, a maior variação porcentual desde 18 de maio de 2017, dia seguinte à revelação da delação de Joesley Batista, quando a moeda americana disparou 8,07%.
O BC não atuou no mercado de câmbio ontem, embora a perspectiva das mesas de câmbio fosse de atuação forte. No ano, o dólar já acumula valorização de 26% e, neste mês, de 13%. (O Estado de S. Paulo/Gabriel da Costa, Luís Eduardo Leal, Altamiro Silva Júnior, Denise Abarca, Thaís Barcellos e Cícero Cotrim)