Chamam a atenção os detalhes do IPCA de fevereiro

O Estado de S. Paulo

 

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de fevereiro registrou uma alta de 0,25%, menor resultado para o mês desde 2000, embora acima das estimativas dos analistas. Em termos absolutos, a taxa deve ser vista como baixa, além de limitar a 4,01% a inflação oficial dos últimos 12 meses, o que é compatível com o regime de metas.

 

Mas os maiores responsáveis pela inflação de fevereiro foram o nível insatisfatório da atividade econômica, que mantém o consumidor numa política de rédea curta e em dificuldades a maioria das empresas – com exceções, como a de algumas montadoras de veículos – se não podem repassar para os preços finais a valorização do dólar. É perigoso, portanto, comemorar a contenção inflacionária observada no período, pois, se houver demanda, não se deve excluir o risco de que os custos sejam incorporados aos produtos, o que poderá provocar alguns reajustes relevantes nos próximos meses.

 

Educação e saúde, com altas de 3,70% e de 0,73% entre janeiro e fevereiro, destacaram-se entre os itens que mais subiram no mês passado. A sazonalidade explica, em parte, as altas, pois as mensalidades escolares são reajustadas no início de ano. Mas os produtos de higiene pessoal também subiram bastante, o que tem relação com a epidemia do coronavírus, que fez crescer a demanda de sabonetes e de álcool para limpeza, entre outros itens.

 

Houve, ainda, ligeira elevação (0,11%) dos preços de alimentos e bebidas, influenciados para cima pelo tomate e pela cenoura e para baixo pelas carnes – cujos preços caíram pelo segundo mês consecutivo.

 

As dimensões da crise global deverão empurrar para baixo alguns preços, como o dos derivados de petróleo. A gasolina tenderá a ser mais competitiva do que o álcool para abastecer os veículos. O custo dos transportes, um item importante para medir a inflação, será mais bem contido. O mesmo poderá ocorrer com os preços da eletricidade, beneficiados pelo regime de chuvas favorável.

 

Se os fatores esporádicos de alta e de baixa se anularem, torna-se mais provável que a inflação permaneça contida, o que ajudará as famílias a superar as dificuldades decorrentes da remuneração insatisfatória da atividade informal e das limitações dos reajustes salariais no caso dos empregos com carteira assinada. No geral, não são bons os motivos que justificam a inflação contida. (O Estado de S. Paulo)