Revista PEGN
A CargoX aposta na profissionalização para continuar crescendo – seja em seus próprios serviços financeiros e tecnológicos ou nos caminhoneiros atendidos. Após focar menos em autônomos e mais em pequenas transportadoras, a startup de logística desenvolverá neste ano uma linha de empréstimo para compra de caminhões e também uma tecnologia própria para precificação automática de fretes.
As novidades serão fundamentais para a CargoX manter seu crescimento de 20% ao mês, mesmo já tendo números grandiosos. Fundada pelo argentino Federico Vega em 2013, a a startup de logística tem 400 mil caminhões conectados a seu aplicativo por meio de 20 mil transportadoras, que atendem 9 mil empresas como Ambev (bebidas), Unilever (bens de consumo) e Votorantim (indústria pesada).
O aplicativo conecta corporações com necessidade de levar cargas a transportadoras com caminhões ociosos – por exemplo, que não têm carga ao voltar de uma outra entrega.
Crédito: capital de giro e caminhões
A startup de logística ainda tem um grande mercado a explorar. De acordo com a Agência Nacional de Transportes Terrestres, o Brasil tem cerca de 150 mil transportadoras. Cada uma delas tem uma média de 7,6 caminhões. Como muitas outras PMEs, elas sofrem para conseguir o capital de giro que suportará o tempo entre investir em uma entrega (comprar o caminhão, contratar motorista e colocar combustível) e receber o pagamento do cliente.
Os bancos tradicionais não atendem bem essa oferta de crédito, segundo o fundador Federico Vega. A CargoX concedeu R$ 100 milhões em crédito no último ano, a partir de recursos do próprio caixa. Para 2020, espera conceder R$ 500 milhões por meio de um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios. Os FIDCs são fundos de investimento que operam pela obtenção do direito de receber dinheiro ou títulos.
A CargoX dará um passo além em sua oferta de crédito nos próximos meses: em parceria com fintechs, dará financiamento para ajudar na compra de caminhões. “Podemos dar linhas de crédito mais favoráveis porque já conhecemos os ganhos das transportadoras e sabemos qual seu risco financeiro. Também podemos unir as empresas para uma negociação de crédito com maior volume e menores taxas de juros”, diz Vega.
A CargoX cobra das empresas donas das cargas pelo transporte e faz o repasse para os caminhoneiros. As linhas financeiras são uma fonte adicional e recorrente de ganhos para a CargoX.
Alguns serviços financeiros se unem a tecnologias proprietárias da CargoX, que se autointitula uma “aceleradora para transportadoras”.
A startup de logística terá uma precificação automática e em tempo real de fretes. Antigamente, o processo era combinado por telefone. Clima, oferta e demanda de caminhoneiros e peso da carga serão levados em consideração no cálculo automático do frete. A CargoX também usará bancos de dados e análise por aprendizado de máquina (machine learning) para analisar historicamente cada variável.
O serviço deverá estar completamente operante até o final deste ano e promete um grande impacto: em 2019, a CargoX movimentou R$ 13 bilhões em 200 mil fretes. Um desafio é manter bons preços de frete no país todo e em categorias como alimentos básicos, com valor de venda baixo, mas peso alto.
Não é apenas para serviços financeiros que a CargoX investe em tecnologia, porém. A startup de logística traça rotas otimizadas primeiro para uma entrega mais veloz – segundo Vega, apenas 12% dos caminhos que caminhões percorrem no país são asfaltados.
Depois, para garantir uma viagem mais segura. Pontos com tráfico de drogas e prostituição, além de regiões, motoristas e empresas com histórico de roubos entram na base de dados da CargoX. Cerca de 0,1% de todas as encomendas transportadas por caminhões são roubadas no Brasil. A CargoX reduz essa porcentagem pela metade.
Sua união de finanças e tecnologia gera um aumento de 50% na receita líquida de cada caminhão ao usar a CargoX, segundo a própria startup.
CargoX: planos para 2020
Uma meta associada além das novidades de 2020 e do crescimento da startup de logística, que está em 20% ao mês e deverá ser mantido, é reduzir a ociosidade dos caminhões cadastrados, hoje em 30%.
Para Vega, a CargoX atingiu um efeito de rede grande o suficiente para que o boca a boca faça a plataforma ter condições de superar esses desafios de ociosidade e de crescimento. “É um ponto de virada para todo modelo de marketplace”, diz.
Ainda que a CargoX já tenha falado de planos de expansão para países vizinhos, o foco continua no Brasil. “Temos um mercado doméstico complexo, mas gigante. Com ou sem crise econômica, ainda acho que estamos no melhor país para empreender”. (Revista PEGN/Mariana Fonseca)