Série sobre F1 é mais emocionante que a própria

O Estado de S. Paulo

 

Já tem a segunda temporada da série da Netflix sobre os bastidores do circo da Fórmula 1, Drive to Survive.

 

O título de duplo sentido traz a premissa da série: a luta interna que existe para ser um dos 20 privilegiados a pilotar um carro de F-1 e sobreviver entre tubarões.

 

O problema é que a série é tão bem feita, que fica duro depois assistir às monótonas e longas corridas da temporada que vêm no correr do ano.

 

Na primeira temporada, de 2018, as grandes equipes, Mercedes e Ferrari, se recusaram a participar tolamente. Foi até bom, porque conhecemos a luta para as equipes sobreviverem sem dinheiro, as disputas do segundo pelotão e as dramáticas histórias de pilotos novatos e veteranos.

 

Não competem, sobrevivem. Contra as grandes montadoras, desdobram-se.

 

O sucesso da série fez as teimosas grandes equipes se dobrarem sob o poder da nova TV, apesar de, em todo momento, alguns se sentirem incomodadas com a “intrusão” da equipe de filmagem.

 

Com os princípios essenciais de bons roteiristas/diretores/montadores, criam-se conflitos, humanizam-se super deuses, dão emoção, ganchos, contradições.

 

Cada episódio aborda uma trama:

 

As dificuldades da americana e sem grana equipe Haas, que perde o patrocinador, um excêntrico empresário, no começo da temporada.

 

O drama da antes vencedora Williams, nas mãos agora de uma mulher, a filha, escuderia que perdeu patrocinadores, se perdeu e está sempre no final do grid.

 

As competições internas entre Daniel Riciardo, o mais simpático e carismático dos pilotos, que trocou a supercampeão Red Bull pela Renault, e de quem roubou a vaga, o jovem Carlos Sainz.

 

O domínio absoluto de Lewis Hamilton, ídolo de origem pobre.

 

A rivalidade interna entre Verspatten e Gasly, da Red Bull.

 

A ascensão do tailandês budista Alex Albon, cuja mãe foi presa por fraude na infância; e ele teve que cuidar sozinho dos irmãos.

 

A morte de um amigo íntimo na Fórmula 2 de todos eles.

 

A paixão pela Ferrari e a competição interna entre Leclerc, o novato, sempre à frente do veterano e quatro vezes campeão, Sebastian Vettel.

 

O drama do piloto mais antigo do grid, Nico Hulkenberg, que nunca subiu num pódio e quase consegue vencer o Grande Prêmio da Alemanha, sua casa, batendo no final.

 

Difícil desgrudar.

 

Difícil depois encarar as corridas. (O Estado de S. Paulo/Marcelo Rubens Paiva)