O Estado de S. Paulo
As últimas pesquisas mostram que no mundo inteiro os acidentes de trânsito causados por pessoas usando o telefone celular crescem vertiginosamente e já se transformaram num dos campeões de colisões e atropelamentos de todos os gêneros.
O uso do celular deixou de ser apenas “falar no telefone” para abrir amplo espaço para as mensagens, textos e outras informações passadas através do aparelho, agravando ainda mais um quadro que já era extremamente sério.
Basta andar por qualquer grande cidade do mundo para ver pessoas dirigindo os veículos mais diversos, de todos os preços e modelos, falando no telefone, mantido próximo do ouvido por uma mão, enquanto a outra serve para dirigir.
O simples fato de ter apenas uma mão livre para realizar todas as funções necessárias para dirigir um veículo seria suficiente para aumentar as probabilidades de um acidente. Mas o risco cresce mais na medida em que o motorista além de segurar o aparelho, ainda por cima conversa sobre os mais variados assuntos, alguns capazes de tirar sua atenção do trânsito.
Dirigir exige habilidade, competência, conhecimento das regras e reflexos rápidos. Ao falar no telefone e brigar com a namorada, com certeza o motorista perde muito desta capacidade, a começar pelos reflexos, já que ele não está atento para poder reagir aos imprevistos que surgem rotineiramente nas ruas e estradas.
As multas para quem usa o celular enquanto dirige são altas e significam a perda de um número elevado de pontos, mas, mesmo assim, não têm se mostrado suficientemente efetivas para coibir o uso do aparelho e reduzir a quantidade de acidentes decorrentes desta prática.
E a tendência é o problema continuar crescendo, alavancado pelo uso dos programas de texto que vão substituindo a fala e tornando ainda mais perigoso o uso do celular no trânsito.
Se falar já representa um risco alto, escrever e ler aumentam o risco de forma exponencial. Para ler e escrever, a pessoa tem de se concentrar na tela e no teclado. Mesmo para enviar uma mensagem de voz é preciso apertar um determinado ponto da tela para gravar a fala. E isso também exige que atenção seja desviada para o telefone, normalmente colocado na frente do motorista, fazendo com que ele não tenha condições de reagir caso aconteça um fato inesperado, capaz de causar um acidente.
De um pedestre atravessar fora da faixa, até o semáforo mudar de cor, as possibilidades são quase que infinitas e elas são potencializadas pelo fato de que não é apenas um único motorista que fala, lê ou escreve pelo celular. As chances de dois estarem próximos um do outro e distraídos pelo uso do aparelho são reais. Assim, as chances de acontecer um acidente também são reais e muito maiores do que na época em que as pessoas não tinham os aparelhos à disposição, instaladas em suportes mais variados, colocados estrategicamente próximos dos olhos, ou de forma a chamar a atenção do motorista.
O quadro se complica especialmente no que diz respeito ao pagamento das indenizações de seguros porque, pelo menos até agora, os carros e os celulares não têm um dispositivo que prove que o telefone estava sendo usado na hora do acidente.
Não há como fiscalizar a maioria dos motoristas que trafegam pelas ruas das cidades de forma a impedir o uso do telefone enquanto dirigem. Como a prova de que o telefone estava sendo usado e que foi o seu uso que deu causa ao acidente é da seguradora, a sua realização é muito difícil, o que libera o motorista para continuar infringindo a lei. Ele sabe que as chances de ser apanhado usando o celular são baixas, portanto, continuar fazendo não é um risco concreto, pelo menos até a ocorrência de um acidente sério. Mas aí já é tarde.
As multas para quem usa celular são altas, mas, mesmo assim, não são suficientes para coibir o uso do aparelho. (O Estado de S. Paulo/Antonio Penteado Mendonça, sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia, secretário geral da Academia Paulista de Letras)