Produção industrial cai após três altas

O Estado de S. Paulo 

 

A produção industrial brasileira caiu 1,2% em novembro em relação a outubro, interrompendo ciclo de três meses de alta. A queda gerou alerta sobre o ritmo de recuperação da atividade econômica. O mau desempenho eliminou mais da metade do avanço de 2,2% acumulado de agosto a outubro. Os ramos que mais caíram foram alimentação, veículos e indústria extrativa.

 

Após três meses consecutivos de avanços, a indústria brasileira voltou a decepcionar em novembro. A queda de 1,2% em relação a outubro colocou em alerta o ritmo de recuperação do setor e, consequentemente, da atividade econômica. Os dados são da Pesquisa Industrial Mensal divulgada pelo IBGE.

 

“Não dá para se iludir. Esse dado é um choque de realidade. A atividade vai retomar, mas de forma lenta. Não dá para falar ainda que pegou tração”, avaliou o economista-chefe da gestora de recursos SulAmérica Investimentos,

 

Newton Camargo Rosa. Para ele, ainda há muitos altos e baixos no setor industrial. Isso dificulta cravar a existência de uma recuperação sustentável.

 

O mau desempenho de novembro eliminou mais da metade do avanço de 2,2% acumulado de agosto a outubro. O tropeço levou a indústria brasileira a operar de novo em patamar inferior ao que encerrou 2018.

 

“A indústria tem em novembro um comportamento claro de redução de ritmo. Claro que pode ter havido antecipação da produção para as datas importantes do comércio, como Black Friday e Natal, mas ela não teve fôlego para continuar com esse dinamismo na produção”, apontou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.

 

Para o economista-chefe do Haitong Banco de Investimento, Flávio Serrano, o resultado da indústria em novembro pode ser visto como um “balde de água fria” nas expectativas para o setor no curto prazo.

 

“Vínhamos de uma sequência de números bons em agosto (1,2%), setembro (0,2%) e outubro (0,8%), então esse resultado mostra que ainda estamos sujeitos a essa volatilidade, mas a dinâmica é positiva”, ponderou Serrano.

 

Em novembro, 16 dos 26 setores investigados registraram redução na produção. Houve destaque para as perdas de produtos alimentícios (-3,3%), veículos automotores (-4,4%) e indústrias extrativas (-1,7%). Na indústria extrativa, a queda foi puxada pela menor produção de minério de ferro. Na alimentícia,

 

Estoque de veículos

 

O dado positivo dos números apresentados ontem pelo IBGE é que o nível de estoques da atividade de veículos automotores chegou ao fim do ano de 2019 normalizado

 

houve aumento na produção de carnes bovina, suína e aves, por conta da maior demanda da China. Mas caiu a fabricação de açúcar.

 

Veículos

 

Já a indústria automobilística parece ter feito um ajuste de estoques, uma vez que a crise na Argentina afeta de forma importante a exportação de automóveis para o país vizinho, opinou Macedo.

 

O setor automobilístico pode voltar a afetar a indústria em dezembro. Dados negativos divulgados pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) sobre a produção de veículos em dezembro podem se refletir na próxima divulgação da Pesquisa Industrial Mensal. O impacto poderia ocorrer não apenas na indústria automobilística, como também em outros ramos industriais que fazem parte dessa cadeia produtiva, alertou Macedo.

 

“Para além do peso que ele (o setor automobilístico) tem dele mesmo, ele tem correlação importante com outros segmentos industriais, como borracha e plástico, metalurgia básica, máquinas, aparelhos e materiais elétricos”, enumerou o pesquisador do IBGE. (O Estado de S. Paulo/Daniela Amorim, Cícero Cotrim e Thaís Barcellos)