O Estado de S. Paulo
Números decepcionantes divulgados ontem por China e Alemanha deixaram o mercado financeiro em alerta diante da possibilidade de nova recessão global. No Brasil, o Ibovespa caiu 2,94% e o dólar subiu 1,79%, maior alta porcentual desde 27 de março, fechando o dia em R$ 4,04. Nos EUA, o índice Dow Jones e a Nasdaq recuaram 3,05% e 3,02%, respectivamente. As bolsas europeias seguiram tendência parecida. A China divulgou a menor alta em 17 anos para a produção industrial (4,8%). Em seguida, a Alemanha informou que seu PIB diminuiu 0,1% no segundo trimestre. Diante da crescente busca das empresas brasileiras por dólares, o Banco Central decidiu fazer a primeira venda da moeda americana à vista desde 2009. Apesar de analistas considerarem que é cedo para falar em recessão técnica (dois trimestres consecutivos de PIB negativo), eles veem o mundo “no limite” de uma crise. Números de China e Alemanha alarmam mercados; após 10 anos, BC voltará a vender moeda americana à vista
Indicadores de desaceleração econômica divulgados ontem na China e na Alemanha desencadearam pânico no mercado financeiro em relação à possibilidade de uma recessão global estar se aproximando. Em Nova York, as Bolsas recuaram na faixa de 3%, enquanto as da Europa perderam 2%. No Brasil, o Ibovespa (principal índice da Bolsa) caiu 2,94%, para 100,2 mil pontos. O dólar subiu 1,79% – maior alta desde 27 de março – e fechou em R$ 4,04.
O derretimento dos ativos começou na Europa, após a Alemanha, maior economia do continente, divulgar que seu Produto Interno Bruto (PIB) recuou 0,1% no segundo trimestre. Horas antes, a China havia informado que as vendas no varejo avançaram 7,6% em julho, na comparação com o mesmo mês do ano passado, e que a produção industrial subiu 4,8% – a menor alta em 17 anos. Ambos os resultados ficaram abaixo do esperado por analistas.
Diante do cenário frustrante, o mercado de títulos públicos americanos acendeu a luz amarela. Os juros pagos aos títulos com vencimento daqui a dez anos caíram abaixo dos rendimentos dos papéis que vencem em dois anos. Conhecido como “inversão de curva”, o fenômeno é visto como um sinal de que os investidores projetam crescimento econômico fraco no futuro e inflação baixa. E serviu de prenúncio a todas as recessões econômicas dos Estados Unidos desde 1950.
As curvas dos títulos de três meses e dez anos já estão invertidas desde 23 de maio, mas ontem alcançaram a diferença mais profunda desde 2007. No caso das curvas de títulos de dois e dez anos – a mais observada pelo mercado –, a inversão não ocorria desde 2007.
O resultado desse movimento foi a queda de 2,19% na Bolsa de Frankfurt, de 2,08% em Paris e de 1,42% em Londres. Nos EUA, o impacto foi ainda maior. O índice Dow Jones recuou 3,05%, enquanto Nasdaq e S&P 500 caíram 3,02% e 2,93%.
A inversão da curva de juros também vem sendo observada no Reino Unido. Analistas pontuam que a inversão, embora não seja garantia de recessão no futuro próximo, é uma agravante no cenário econômico mundial.
“Seria fácil ignorar o sinal da curva de juros se a economia global estivesse indo bem, mas este não é o caso”, avaliou a diretora executiva de câmbio do BK, Kathy Lien. Além da fraqueza do crescimento mundial, afirmou Kathy, outros fatores como a guerra comercial entre EUA e China, a saída do Reino Unido da União Europeia (o Brexit) e as crises na Itália e em Hong Kong podem contribuir para uma recessão.
Em meio à crescente busca das empresas brasileiras por dólares, o Banco Central decidiu que ofertará lotes diários da moeda americana. Esse tipo de operação não ocorria desde fevereiro de 2009. (O Estado de S. Paulo/Altamiro Silva Junior, Bruno Caniato, Monique Heemann e Paula Dias)