O Estado de S. Paulo
Montadoras instaladas no Brasil começam, aos poucos, a abrir portas para startups. As parcerias locais feitas até agora envolvem principalmente soluções tecnológicas nas áreas de recursos humanos, administrativa, regulamentação, engenharia de manufatura, compartilhamento e até direção autônoma.
“O setor automotivo ficou acomodado e, nos últimos anos, voltou-se para a eficiência da cadeia produtiva e só recentemente, com a chegada de carros elétricos e autônomos passou a olhar mais para as empresas de tecnologia”, diz Rafael Levy.
Ele é um dos fundadores da 100 Open Startups, rede que conecta startups a grandes empresas para adoção da inovação aberta – quando a companhia aceita cooperação de startups, universidades e centros tecnológicos.
Desde 2016, a rede divulga ranking com as 100 startups e as 50 empresas que mais fizeram parcerias nos últimos 12 meses. No mais recente deles, de julho, há apenas uma montadora, a Renault, em 31º lugar.
“Quando há um problema que não conseguimos solucionar internamente, buscamos as startups”, diz Ricardo Mendes, da Renault. Em abril, a montadora passou a ocupar área no Cubo, espaço de empreendedorismo do Itaú, onde já consolidou três parcerias: com a Linte, para gestão de contratos; a Kenoby, que desenvolve processo de recrutamento; e a JoyCar, de compartilhamento de carros. Nesse caso, a Renault cedeu seu modelo elétrico Zoe para testes de compartilhamento entre as pessoas que trabalham no Cubo. Futuramente vai ampliar o projeto para outros usuários.
Segundo Mendes, as parcerias vão possibilitar redução de custos e de tempo de desenvolvimento de novos projetos, avanços tecnológicos e novos modelos de negócio. “Estamos numa fase de transformação”, diz. A Renault também tem parcerias com outras 12 startups.
Outra montadora integrada a um espaço de inovação compartilhado é a Ford que, desde novembro, está no inovabra habitat, criado pelo Bradesco. A parceria mais avançada é com a Legalbot, que atua na área de compliance (conformidade). Por meio de inteligência artificial, um robô verifica se há alteração nas regulamentações brasileiras que possam interferir no braço financeiro da empresa, o Ford Credit. Constatadas mudanças, o sistema envia alertas às áreas envolvidas. Antes, a consulta era feita por funcionários e tomava muito tempo.
A Mercedes-Benz, em parceria com a Grunner, desenvolveu em 2018 um caminhão autônomo para recolhimento de cana. Ari de Carvalho, diretor de vendas e marketing, diz que o processo normalmente é feito por motoristas que, na maioria dos casos, não conseguem manter o veículo em linha reta na coleta e destroem mudas da safra futura. Agora, o georreferenciamento orienta o percurso e o motorista só acompanha o trajeto. “O produtor que antes colhia 70 toneladas de cana por hectare hoje colhe 120 toneladas”, diz. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)