O Estado de S. Paulo
Curiosidade sempre, espanto às vezes, indiferença jamais. O PAG Nick do comerciante Maurício Tchakerian intriga a todos por onde passa. Especialmente quem não viveu os anos 80, quando, na ausência de modelos importados, transformações feitas de fibra de vidro eram uma solução para aqueles que buscavam exclusividade.
O Nick é obra da PAG, sigla de Projects d’AvantGarde (Projetos de Vanguarda), braço da extinta Dacon. A concessionária de São Paulo fez história como a primeira representante da Porsche e depois por criações como o 828 e suas modificações de modelos da Volkswagen.
A base do Nick era a BX (picape Saveiro, os hatches Gol GTS e GTI e o sedã Voyage). Após ser desmontado, cortado e encurtado, o modelo vestia uma nova carroceria de fibra de vidro. A produção durou de 1988 a 1991.
“Há 30 anos, quando eu tinha 18, descia a Rua Augusta e a Avenida Europa só para passar pela Dacon. E ficava sonhando com o Nick exposto na vitrine”, lembra Tchakerian. “É uma lembrança marcante da minha geração, e que não faz sentido para os mais novos: ter um lugar aonde ir para ‘namorar’ carros. O Nick é um modelo para quem era adolescente naquela época.”
A intenção de tornar realidade o antigo sonho de adolescência vinha de longa data. O difícil era encontrar um Nick íntegro. Se já eram raros exemplares de Gol GTS que não estivessem detonados, no caso do PAG havia ainda o agravante da transformação, que mexia muito na estrutura da carroceria.
O comerciante encontrou exemplares, mas todos com problemas graves. Até que em 2014 ele soube do Nick de 1989 largado em uma loja multimarcas. “O carro tinha tido um único dono e estava à espera de um comprador havia um tempão.”
Refeito
O PAG estava em boas condições, mas um importante detalhe incomodou Tchakerian. Havia trincas nos pontos de junção entre a carroceria e as peças de fibra. A solução foi desmontar o carro, mas o serviço acabou tomando grandes dimensões.
“A ideia era apenas dar um banho de tinta na carroceria. Depois, resolvi trocar a tapeçaria e repintar a parte interna. Quando dei por mim, apenas dois parafusos do eixo traseiro haviam sido preservados”, diz o proprietário.
Aos poucos, a originalidade do carro foi restabelecida, das lanternas às peças do acabamento. O comerciante removeu alguns acessórios, como alarme, sistema de levantamento automático dos vidros e trava de segurança na alavanca de câmbio. “Deixei o chicote elétrico no estado original.” Quando foi comprado por Tchakerian, o carro estava com 90 mil km rodados. De lá para cá, não rodou mais de 2.500 km. O dono diz que nem precisa tirar o Nick da garagem para curti-lo.
“Só de tirar a capa e mexer nele, já me dá uma paz sem tamanho. É uma higiene mental”, conta. “Quando a gente restaura um carro preto, a pintura fica como um espelho. Dá até pena de mexer.”
Durante a restauração, Tchakerian contou com a ajuda do filho, que tinha apenas 10 anos quando o carro ficou pronto. “Ele me ajudava a limpar as peças. Não sei o futuro, mas minha vontade é que o Nick fique com ele. Assim, quando ele tiver 25 anos, poderá dizer aos amigos que participou da reforma do carro. Para quem gosta de antigos, isso é muito legal”. (O Estado de S. Paulo/Thiago Lasco)