Dentro e fora do Brasil, metalúrgicos se unem contra os cortes de direitos na GM

Brasil de Fato

 

O Movimento Brasil Metalúrgico, que reúne sindicalistas de todo o país e congrega as centrais sindicais CUT, CTB, Força Sindical, CSP-Conlutas, UGT, Intersindical, se reuniu nesta sexta-feira (1º) para definir um plano de reação às ameaças de retirada de direitos trabalhistas feitas pela montadora General Motors (GM) no início deste ano.

 

Na semana passada a GM propôs aos sindicatos dos metalúrgicos de São José dos Campos, São Caetano do Sul e Gravataí aumento da jornada de trabalho, fim da estabilidade após acidentes de trabalho, terceirização irrestrita de funções e redução do piso salarial, de R$ 2300 para R$ 1600.

 

A plenária do Brasil Metalúrgico nesta sexta, no Palácio dos Trabalhadores, reuniu cerca de 100 dirigentes sindicais de cidades como São Paulo, Osasco, São José dos Campos, São Caetano do Sul e Piracicaba.

 

A maior preocupação dos presentes é que, se efetivadas, as propostas da GM afetarão não só os trabalhadores que hoje atuam dentro das montadoras. Concessionárias, fábricas de autopeças e o setor petroquímico também devem ser prejudicadas pelas mudanças.

 

“Quando a gente faz a discussão do setor automotivo sem olhar a cadeia, não estamos olhando o setor automotivo. Quando a GM toma uma decisão como essa, é claro que isso vai afetar Osasco, Catalão, o ABC, Santa Rita, Piracicaba”, analisa Mônica Veloso, vice-presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos (CNTM). “Era claro que isso [a retirada de direitos] aconteceria aqui, devido ao ambiente extremamente confortável que vive a classe patronal no nosso país, com uma reforma que flexibiliza direitos, precariza a vida das pessoas e as coloca em risco”, finaliza, em referência à reforma trabalhista, aprovada em 2017.

 

Desmonte internacional

 

Também participaram da reunião, por videoconferência, representantes sindicais de outros países, afetados pelos planos globais de reestruturação da GM. Dino Chiodo, representante de relações internacionais da central sindical canadense Unifor, relatou a luta para manter os quase 30 mil empregos gerados pela fábrica da GM em Oshawa, no Canadá. Como forma de justificar o fechamento do local, a companhia anunciou ao sindicato que precisava dar ênfase aos veículos elétricos, menores, em detrimento dos veículos maiores, que são produzidos em Oshawa. O pretexto não foi bem recebido: a venda de veículos elétricos pela GM na América do Norte representa apenas 2 ou 3% do total.

 

“A companhia não tem sido nada além de arrogante conosco, e não se importa com nada além dos lucros, não respeita os trabalhadores e os sacrifícios que fizemos por eles” disse Chiodo durante a plenária. “Fechamos fábricas, ocupamos o escritório central da empresa por três dias, colocamos outdoors nas estradas, comerciais na televisão, e estamos ganhando a opinião pública”.

 

Ainda nesta sexta-feira, trabalhadores da fábrica da GM em Gravataí (RS) paralisaram a produção da fábrica durante três horas e meia e conquistaram um recuo da companhia.

 

Em nota, a General Motors se comprometeu a cumprir o acordo coletivo até 2020, postergando a possível efetivação de suas propostas por pelo menos um ano. Os trabalhadores aprovaram a proposta em assembleia, e só então iniciaram o trabalho do dia.

 

O encontro de hoje deliberou pela articulação de um dia global de luta que reúna sindicatos e trabalhadores no Brasil, Canadá e Estados Unidos contra as retiradas de direitos e fechamentos de fábricas propostas pela GM. Também será formado um grupo de trabalho intersindical, responsável por elaborar uma contraproposta que seria negociada em conjunto, representando o conjunto dos funcionários da empresa dentro do país.

 

A reportagem do Brasil de Fato aguarda retorno da assessoria de comunicação da GM para responder às acusações dos trabalhadores.

 

Solidariedade

 

Fábricas metalúrgicas em sete regiões diferentes de São Paulo também tiveram, nesta sexta, manifestações de pesar pelas mortes ocorridas em Brumadinho (MG). Em Jurubatuba, Belenzinho, Ipiranga, Mooca, Guararema, Limão e Jaraguá, trabalhadores se reuniram em frente às empresas antes do expediente e homenagearam os metalúrgicos que estão na lista de mortos e desaparecidos após rompimento da barragem da Vale, no último dia 25. (Brasil de Fato/Daniel Giovanaz)