Brasileiro preso no Japão é suspeito de ter dissimulado compra de imóvel no Rio

O Estado de S. Paulo

 

O executivo brasileiro Carlos Ghosn é suspeito de ter usado unidades da Nissan na Europa para dissimular pagamentos de quase US$ 18 milhões para a compra de um imóvel de luxo num condomínio no Rio de Janeiro, além de uma casa em Beirute.

 

O empresário que há quase duas décadas ajudou a orquestrar a união entre a francesa Renault e a japonesa Nissan foi preso nesta segunda-feira, 19, no Japão. Conhecido pela capacidade de cortar custos e recuperar em negócios em crise, Ghosn, de 64 anos, é acusado de fraudar sua declaração de renda e de usar recursos corporativos para benefício pessoal. A investigação foi originada a partir de uma denúncia interna e teve a colaboração da Nissan nos últimos meses.

 

Nesta terça-feira, o jornal japonês Nikkei revelou parte das investigações que apontam para a suspeita de que a Nissan Motors teria criado uma afiliada na Holanda e que, a partir dessa unidade, US$ 17,8 milhões foram pagos em dois imóveis de luxo, no Rio e no Líbano.

 

De acordo com o jornal, a subsidiária holandesa foi criada em 2010, com um capital de US$ 53 milhões. O dinheiro seria usado para investimentos. Oficialmente, a empresa indicava que aqueles recursos tinham como objetivo apoiar startups, ainda que existam poucas evidências de que o dinheiro acabou tendo mesmo essa finalidade.

 

Para se chegar a essas informações, funcionários da Nissan usaram uma nova lei no Japão que permite o mecanismo da delação premiada. Ela foi introduzida em junho e o caso do brasileiro é apenas o segundo a envolver o novo mecanismo.

 

O jornal japonês ainda, os dois imóveis adquiridos a partir da unidade holandesa da Nissan eram para o uso provado de Ghosn.

 

Além disso, cabia à empresa pagar por custos de manutenção e eventuais renovações. No total, estima-se que os gastos teriam chegado a 2 bilhões de yen.

 

Ghosn passou sua infância no Rio e depois se mudou para Beirute, onde terminou o colegial. No Líbano, a Nissan não conta com qualquer tipo de operação de grande escala. (O Estado de S. Paulo/Jamil Chade)