Volkswagen e outras montadoras estão dispostas a transferir produção por causa de tarifas

O Globo

 

Diante da ameaça da União Europeia de retaliar os Estados Unidos com tarifas de US$ 300 bilhões a automóveis americanos, montadoras reagiram e se mostraram dispostas a produzir onde quer que seja necessário para evitar as sobretaxas.

 

Em entrevista ao jornal britânico “Financial Times”, o diretor de produção do grupo Volkswagen, Oliver Blume, disse que a montadora está disposta a mudar de local de produção, sem hesitação: “Deixe-me ser claro. Para onde for razoável mudar, nós faremos isso, sem hesitação”. O mesmo alerta já foi feito pela General Motors, sobre possíveis mudanças de unidades por causa de tarifas.

 

A fabricante de motocicletas Harley-Davidson foi a primeira entre as grandes montadoras a anunciar mudanças: na semana passada revelou que vai transferir parte da produção de suas fábricas nos Estados Unidos para outros países por causa das sobretaxas europeias.

 

Especialistas alertam para o risco de que, diante da imposição das tarifas, montadoras passem a repensar suas estratégias. “A triste verdade é que, se você impuser tarifas, a produção vai se mexer. Se a tendências nacionalistas continuarem, o cenário inevitável será de mais produção nos locais em que vende os veículos apenas para se evitar tarifas maiores”, disse ao “Financial Times” Arndt Ellinghorst, analista do setor na Evercore ISI.

 

As vendas externas representam a grande parte da produção de veículos de cada país: o percentual é de 80% no Reino Unido, 82% no México e 78% na Alemanha. Nos Estados Unidos, metade dos carros vendidos é fabricado fora do país. Analista na Bernstein, Max Warburton aponta que a indústria automobilística é uma das que mais se beneficiou da globalização.

 

Mas a mudança de ares no comércio internacional e o temor de uma guerra comercial já tem alterado o cenário e algumas montadoras começam a produzir mais voltadas para os mercados locais. Cerca de dois terços dos veículos vendidos pela Toyota em cada região já seriam fabricados em suas fronteiras. “Em certo grau, montadoras já estão produzindo carros em unidades regionais. Se olhar para a Toyota, eles produzem o mesmo veículo básico na Europa para a Europa e no Japão para o Japão”, disse Ian Henry, diretor do grupo AutoAnalysis. (O Globo)