O Estado de S. Paulo
Em nosso País vivemos uma contradição: em 2018, o rumo da economia é cada vez mais claro, na exata medida em que o rumo da política é cada vez mais incerto. Isso não quer dizer que exista um descolamento das duas partes, mas, sim, que elas se encontrarão mais adiante e só aí saberemos se a retomada atual será transformada em sustentada ou se viveremos, mais uma vez, um “voo da galinha”.
Voltemos à economia. Estamos cada vez mais seguros de que o crescimento será bem robusto. Os dados disponíveis mostram que o último trimestre deve ter apresentado um crescimento positivo e, nesse caso, o mais provável é que a expansão do PIB tenha sido de 1,1% ou mais em 2017. No ano em curso, nossa projeção é de 3,5%.
Todos os setores deverão crescer, inclusive construção e indústria. Do lado da demanda, o consumo das famílias seguirá se ampliando, cada vez mais embalado pela recuperação do emprego e pela queda das taxas de juro. Ao mesmo tempo, e como o último trimestre do ano passado já mostrou, veremos um crescimento relevante na formação de capital (7,7%).
No item investimentos, notamos três diferentes linhas de expansão: de um lado, a construção residencial está começando a andar; de outro, observamos uma boa demanda por reposição de máquinas e equipamentos, explicável pela ausência de atualização nos últimos cinco anos. O natural desgaste e a retomada do crescimento em muitos segmentos da economia estão por trás desse movimento. É interessante observar que isso está ocorrendo por causa do aumento das horas trabalhadas (como segundo turno), sem que estejamos vendo um aumento significativo de fábricas novas. Finalmente, e como já mencionado em artigos anteriores, há uma expansão mais robusta de investimentos na área de petróleo e em certos segmentos de energia elétrica, como a transmissão em alta tensão, a eólica, a solar, etc.
Ao lado do crescimento mais robusto, a nossa percepção é que a inflação também caminha para um resultado melhor do que os 4% projetados na virada do ano. Temos a convicção de que ela poderá ficar numa faixa entre 3,5% e 4%. O próprio resultado do IPCA de janeiro (0,29%) já foi um indicador dessa possibilidade. Existem três razões que devem ser consideradas. A primeira tem a ver com os preços agrícolas: embora seja verdade que não veremos outra rodada de queda nas cotações, a safra em curso mais os estoques de passagem sugerem que não haverá pressões altistas no custo da alimentação. Por outro lado, os preços internacionais do petróleo ficaram um bocado de tempo na faixa dos US$ 70 para o tipo Brent. Nossa percepção é que, ao longo deste ano, a oferta de petróleo vai aumentar e nos parece mais provável que as cotações recuem para a faixa dos U$ 60, o que implicaria uma redução relevante dos preços de derivados no mercado interno. Finalmente, as chuvas de verão estão ocorrendo dentro da normalidade, o que deverá conduzir os preços da energia elétrica para níveis normais.
Os mecanismos de realimentação da inflação seguem bastante enfraquecidos. Basta pensar nos contratos reajustados por um IGP-M negativo e no INPC de 2,1% em 2017, relevante para o salário mínimo e nos dissídios.
Apesar de todas as melhoras mencionadas, ainda temos muita capacidade ociosa e uma taxa de desemprego ainda elevada. Nessas condições, não é fora de propósito que a Selic seja reduzida a 6,5%. Chamo a atenção para o fato de que, nessas circunstâncias, o PIB nominal deverá ser maior do que a Selic, algo que não ocorre há muito tempo.
A parte ruim do cenário é que tudo indica que a reforma da Previdência não vai mais se votada, ficando todo o peso para o próximo presidente. O ajuste das finanças públicas é cada vez mais indispensável, e a consolidação da retomada do crescimento depende integralmente disso. Entretanto, e diferentemente do que muitos acreditavam em agosto/setembro passados, não houve nenhuma explosão no curto prazo. A boa gestão fiscal realizada pela equipe econômica e a melhor arrecadação resultante da retomada proporcionaram um resultado em 2017 melhor do que o esperado.
Por essa razão, a Instituição Fiscal Independente reviu a evolução da relação dívida/PIB: o pior momento se daria em 2024, chegando a 86,5% e declinando a partir de então. Fernando Montero e Sergio Valle têm projeções até um pouco mais suaves.
A parte ruim do cenário é que tudo indica que a reforma da Previdência não será votada. (O Estado de S. Paulo/José Roberto Mendonça de Barros, economista e sócio da MB Associados)