Financiamento integral do BNDES favorece caminhões

DCI

 

As montadoras estão otimistas com a decisão do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de voltar a financiar 100% do caminhão para pequenas e médias empresas. A medida reforça a expectativa dos executivos de um crescimento de 10% a 20% das vendas no segmento em 2018.

 

Segundo o vice-presidente de vendas e marketing da Mercedes-Benz, Roberto Leoncini, foi uma surpresa positiva a adoção do financiamento completo pelo banco de fomento, que passou a vigorar no último dia 1º. No começo de 2017, ainda sob a gestão de Maria Silvia Bastos Marques, o BNDES impôs um limite de 80% para o financiamento de qualquer projeto, à exceção da linha concedida a municípios para a reconstrução em caso de desastres naturais.

 

Mais surpreendente ainda foi que as condições favoráveis foram aprovadas mesmo com o cenário atual de concessão de crédito mais criteriosa pelo banco, em face do déficit nas contas públicas. Vale lembrar que o BNDES precisa devolver R$ 130 bilhões ao Tesouro Nacional neste ano. “Diante do cenário atual, o financiamento de 100% dos veículos é uma medida positiva que, somada a todas as outras boas notícias para o setor neste ano, ajuda na tomada de decisão de investimento pelas transportadoras”, afirma.

 

Após três anos de previsões frustradas, o financiamento de 100% do bem se junta a outros pontos que justificam o otimismo das montadoras de caminhões este ano. Entre os motivos, estão a queda da taxa básica de juros (Selic), que se reflete em uma redução de todos os juros de financiamento no setor; a perspectiva de crescimento mais forte da economia e a necessidade de renovação das frotas, que estão rodando atualmente com veículos defasados.

 

Para o presidente da MAN Latin America (fabricante Volkswagen), Roberto Cortes, mesmo as mudanças do programa de financiamento de bens de capital do BNDES – o Finame – da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) para a Taxa de Longo Prazo (TLP), não impactaram tanto as vendas de caminhões, graças à redução da Selic. Ao contrário da TJLP, que era estabelecida a cada três meses pelo governo com base na meta de inflação do ano, e que girava em torno de 7% ao ano, a TLP é uma taxa de juros marcada a mercado que usa como referência a NTN-B (ou Tesouro IPCA), um dos títulos de dívida oferecido pelo Tesouro Nacional aos investidores no mercado.

 

“A TLP continua muito atrativa para quem busca financiamento”, avalia Cortes. O executivo ressalta que, somada ao spread bancário, essas taxas, que estavam em média em 15,5% caíram para 13%, refletindo os sucessivos cortes da Selic promovidos pelo Banco Central no ano passado, levando a taxa a 7%, seu menor patamar na história. “A atratividade ainda é bastante grande, principalmente para as pequenas e médias empresas”, acrescenta o executivo.

 

Além disso, a queda da inflação, que fechou 2017 em 2,95% conforme o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – a menor taxa desde 1998 – também ajuda a manter a TLP baixa. “A combinação da redução da taxa de juros e da inflação, que balizam a TLP, faz com que o custo do financiamento caia e a propensão de investir aumente. Aliada à retomada da economia, isso nos deixa esperançosos para esse início de ano”, relata Cortes.

 

O segundo ponto positivo para o segmento é a expectativa do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro crescer acima de 2% este ano. Como a indústria de caminhões é extremamente sensível ao desempenho da economia, a recuperação esperada para 2018 deve alavancar as vendas. “O PIB deve ter um avanço de 2,64%, então esperamos a continuidade da expansão, em torno de 4%, do segmento de caminhões”, projeta o executivo da área comercial da Iveco, Luiz Leite.

 

A relação entre o PIB e a venda de caminhões reflete a matriz logística brasileira, que é majoritariamente rodoviária, de modo que praticamente tudo o que é produzido no País acaba transportado para outras regiões por caminhões. Por isso, setores como o agronegócio são muito importantes. “Alguns segmentos do mercado continuam crescendo, como a agropecuária, que não deve ter um ano tão bom quanto no ano passado, mas ainda deve ser muito positivo”, explica.

 

Por último, muito se fala sobre a renovação das frotas, que estão defasadas porque diversos clientes postergaram a compra de novos caminhões em razão das incertezas a respeito da situação econômica a partir de 2014. “Há clientes com frotas de cinco, até seis anos de idade. A taxa de juros alta também inibia as vendas”, comenta Cortes.

 

Leoncini lembra que o custo de operação das transportadoras cresce muito com frotas defasadas, visto que o gasto com manutenção é maior. “Com o caminhão mais antigo, o transportador gasta mais dinheiro e não consegue buscar a diferença no preço do frete”, defende. “É um bom negócio para o empresário renovar este ano.”

 

Linhas alternativas

 

Além do Finame, outras opções de crédito ganharam força com a queda da Selic. É o caso do Crédito Direto ao Consumidor (CDC) e o leasing. “Hoje, o que predomina no nosso mercado é o CDC, que é a linha de crédito mais conhecida e fácil, porque o cadastro é muito mais simples do que o Finame, que exige certidão negativa de impostos”, opina Luiz Leite.

 

Além disso, o executivo conta que o CDC também tem como ponto positivo a previsibilidade, já que não é uma taxa que flutua de acordo com o mercado depois que o comprador contrata o financiamento, ao contrário do que ocorre com a TLP.

 

Segundo a Mercedes, em 2017 a participação do Finame no financiamento de veículos foi de 70%, contra 20% do CDC e 10% de leasing e outros. (DCI)