A contribuição do consumidor

O Estado de S. Paulo

 

O consumidor continuou comprando em outubro com mais disposição que no ano anterior, embora com mais moderação que em setembro. A comparação dos números deste ano com os de 2016 mostra uma firme expansão de vendas de lojas e supermercados, mesmo com algumas oscilações de um mês para outro. Em outubro, o volume de vendas do varejo restrito foi 0,9% menor que o de setembro. No varejo ampliado – com inclusão de veículos, componentes de carros e motos e material de construção – o recuo foi de 1,4%. Mas foram quedas pontuais, sem mudança da trajetória de recuperação, comentou o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, expressando avaliação semelhante à de outros técnicos de consultorias e de instituições financeiras. Descontada a incerteza política, tudo parece apontar uma reativação do consumo mais acentuada em 2018.

 

Apesar da melhora, o consumo continua abaixo dos níveis alcançados antes da recessão. Mas os danos produzidos pela gestão da presidente Dilma Rousseff, gran finale da tragicomédia petista, vêm sendo reparados até mais velozmente do que se estimava no começo do ano. As despesas dos consumidores foram o principal motor do crescimento no terceiro trimestre e continuam estimulando a produção industrial. O quadro de recuperação do comércio fica mais claro quando se comparam os números de cada mês com os de um ano antes.

 

Desde abril as vendas do varejo restrito superam as do mês correspondente de 2016. Em abril, o volume foi 1,7% maior que o do ano anterior. A diferença cresceu mês a mês até atingir 6,2% em setembro. Em outubro ficou em 2,5%, mas a trajetória positiva foi mantida.

 

No varejo ampliado o registro de volumes maiores que os de um ano antes começou em maio, com uma diferença de 4,9%. A maior distância entre os dados mensais de 2017 e 2016, verificada em setembro, foi de 9,2%. Em outubro, a vantagem ficou em 7,5%. No varejo ampliado, a recuperação resultou da melhora das vendas de veículos e componentes e de material de construção.

 

Há, no entanto, um pormenor curioso nesses dados. As vendas de veículos e componentes no varejo têm estado em linha com a reativação geral da indústria de transformação. Nesse movimento o desempenho das montadoras tem sido um dos destaques. A indústria da construção, no entanto, continuou em más condições até o terceiro trimestre, numa trajetória contrastante com a das vendas de material no varejo.

 

Parte da explicação deve estar na estagnação do investimento em infraestrutura, uma das travas à recuperação mais ampla e mais veloz da economia. Essa trava prejudica a recuperação nesta fase quanto às perspectivas de aceleração no médio e no longo prazos.

 

Mas os consumidores vêm fazendo sua parte. Em outubro, o crescimento em 12 meses do varejo restrito atingiu 0,3% e foi positivo pela primeira vez desde abril de 2015. Também no varejo ampliado o desempenho foi positivo, com expansão de 1,4%. O último resultado positivo, de 0,6%, havia sido contabilizado nos 12 meses terminados em agosto de 2014.

 

A incipiente recuperação do consumo é atribuível em boa parte à contenção da inflação. Depois de ter superado a taxa anual de 10% na passagem de 2015 para 2016, a inflação começou a recuar. O controle resultou principalmente da política monetária responsável. A boa oferta de alimentos contribuiu para a redução das pressões sobre os orçamentos familiares, mas a maior parte dos grupos de preços evoluiu de forma bem mais favorável, especialmente ao longo de 2017. O aumento da oferta de empregos, neste ano, também reduziu a insegurança dos consumidores. Assim se criaram condições para um retorno gradual às compras. Com sensatez e responsabilidade, qualidades nem sempre abundantes na Praça dos Três Poderes, será possível preservar essas condições.

 

Correção: No editorial O acordo sobre os pacotes publicado ontem, foi mencionado que ele envolvia, entre outros pacotes econômicos, o Plano Collor I. O acordo, contudo, abrangeu outros planos e deixou o Collor I de fora. (O Estado de S. Paulo)