Jornal do Carro
Em qual confiar?
Seu carro sofreu um acidente, é necessário trocar um farol e você o procura no mercado. Vai na concessionária que tem o “genuíno”, na embalagem da montadora. Ou nas lojas de peças, que o oferecem por um preço menor, produzido e embalado pelo mesmo fornecedor da montadora.
Vale a pena levar o “genuíno” ou não justifica pagar mais por ele?
O vendedor da concessionária admite que o farol não é produzido pela fábrica do automóvel (mas pela fornecedora terceirizada) porém é garantido e submetido a controle de qualidade. O vendedor da loja de peças diz que seu farol é produzido pelo mesmo fornecedor da fábrica e a única diferença é da embalagem. É mais barato por ter um intermediário a menos: ele o recebe direto do fornecedor enquanto o da concessionária passa antes pela montadora.
Atualmente, Fiat, Ford e VW estão em pé de briga com as fábricas de peças que atuam no mercado de reposição. Alegam que investiram bilhões nos projetos de seus carros e patentearam seus desenhos industriais, inclusive dos componentes.
E o fabricante de peças? Se é fornecedor da montadora, tem um acordo permitindo (ou não) abastecer o mercado paralelo. Entretanto, existem também vários fabricantes de peças que não fornecem para a montadora mas fazem a chamada “engenharia reversa”. Dissecam um farol “genuíno”, registram suas medidas, materiais e outras características, e a partir destas informações produzem uma peça similar à original. Que pode (ou não) ter mesma qualidade.
Na batalha judicial, as três montadoras pedem a proibição da reprodução alegando desrespeito aos seus direitos autorais. As fábricas independentes são defendidas pela Associação Nacional das Fabricantes de Autopeças (Anfape) e não concordam com a exigência de pagar às montadoras pelos desenhos. A Anfape entrou no CADE com uma representação há cerca de dez anos. No último capítulo desta novela, o Ministério Publico Federal acaba de afirmar que a conduta das montadoras “é abusiva e afeta negativamente a economia do país e os consumidores”. O que leva a crer que a decisão final será favorável à Anfape. Vale observar que outras grandes marcas como a GM não entraram nesta briga e não se opoem à produção de peças similares.
Quais peças escolher?
E como fica o consumidor nesta troca de chumbo?
Sujeito a levar bala perdida, principalmente por uma perniciosa distorção tipicamente brasileira. No Primeiro Mundo, ninguém coloca no mercado qualquer peça de automóvel que não tenha sido certificada (“selo de qualidade”) por um órgão homologado pelo governo. Na nossa “terra de ninguém”, o processo de certificação engatinha há anos pois é de responsabilidade do Inmetro, uma repartição pública, órgão subordinado ao MDIC (Ministerio do Desenvolvimento, Industria e Comercio). Que certificou apenas uma meia-dúzia de peças (dezesseis, para ser mais preciso) entre as milhares de um automóvel. A Anfape pode até defender empresas sérias. Mas se ganha a causa, vai beneficiar também as do tipo “fundo-de-quintal”, que vão deitar e rolar pois não há certificação nem fiscalização. Não tem como separar o joio do trigo.
Confira: lista com as peças certificadas pelo Inmetro
Neste imbróglio do mercado de reposição, as peças podem ser:
– “genuínas” (ou originais) encontradas na rede de concessionárias, com qualidade assegurada pela montadora;
– “cativas”, produzidas exclusivamente pela montadora e só disponíveis nas concessionárias;
– produzidas pelas fornecedoras da montadora, porém vendidas também pelas lojas de peças, com embalagem própria;
– produzidas por fábricas que não fornecem à montadora, mas de reconhecida qualidade e tradição no mercado;
– fabricadas num “fundo de quintal”, importadas de alguns países asiáticos, ou falsificadas.
Ao cliente que resiste à peça da concessionária, só resta confiar na recomendação de seu mecânico ou dono da loja de peças. Pois ele está desamparado pelo governo federal, que não dá pelota para o assunto. Nem para vários outros que igualmente envolvem segurança veicular. (Jornal do Carro)