Desempenho da exportação de veículos depende de estratégia de longo prazo

DCI

 

As montadoras podem elevar a previsão de exportações para este ano, diante do desempenho acima do esperado no primeiro trimestre. Porém, a evolução dos embarques depende de uma estratégia de longo prazo das empresas.

 

“O problema não apenas das montadoras, mas do País. É que as exportações vêm sempre para resolver um problema. O setor precisa enxergar a atividade como um negócio e não só como um complemento”, avalia o diretor da consultoria automotiva Sell-Out 3, Arnaldo Brazil.

 

Segundo ele, apesar da maioria das montadoras produzir sob plataforma global no País, as especificações dos veículos são muito voltadas para o mercado brasileiro. “Por vezes, perdemos oportunidades de negócios porque temos que adaptar nossos produtos aos destinos, o que custa tempo e dinheiro.”

 

O consultor acrescenta que o Brasil levaria pelo menos três anos para adaptar suas linhas e conseguir atender os mais mercados.

 

“Se houver determinação das montadoras em tornar essa estratégia um negócio perene, as vendas ao exterior vão se manter. Hoje, as exportações são na forma de soluços”, observa Brazil.

 

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) informou na última quinta-feira (6) que as exportações cresceram 69,7% de janeiro a março, totalizando 172,6 mil unidades, recorde histórico para o trimestre.

 

“Mesmo que as vendas domésticas cresçam, entendo que é possível avançar nas exportações. Espero que o setor tenha aprendido que não podemos desprezar o mercado externo como fizemos no passado”, comentou Megale.

 

A Volkswagen, por exemplo, elevou em 102% as exportações no primeiro trimestre, para 47,9 mil unidades. Segundo informou a montadora em nota, o volume representa cerca de um terço (27,8%) de todos os embarques da indústria automotiva no período.

 

Megale acrescenta que as ações das montadoras neste sentido já têm rendido frutos. “Se os números continuarem assim, provavelmente devemos revisar a projeção de exportações para cima.”

 

O dirigente revela que o setor tem ampliado de maneira significativa os embarques para México, Uruguai, Chile e Colômbia. “Os acordos comerciais são de extrema importância para alavancar as exportações. Um exemplo é o tratado com a Colômbia, que ainda não foi internalizado e deixa espaço para aumento das vendas para aquele país.”

 

O consultor da Sell-Out 3 aponta ainda o segmento de caminhões como uma boa oportunidade de aumento do valor agregado das exportações brasileiras. “Diferentemente do segmento de automóveis, poucos países possuem fábricas de veículos pesados como o Brasil, o que nos confere uma vantagem importante”, diz Brazil.

 

Megale salienta que, no futuro, o Brasil poderia até exportar para a União Europeia caso o Mercosul feche um acordo com o bloco. “Se o governo lançar uma política industrial de longo prazo para o setor, poderemos ganhar competitividade e avançar nas exportações”, declarou.

 

Arnaldo Brazil pontua, entretanto, que apesar de uma política de acordos comerciais ser essencial para alavancar as vendas ao exterior, a decisão de exportar é de cada montadora. “Existem barreiras técnicas nos países e, sem produto, não há como exportar.”

 

Descompasso

 

A produção continua em trajetória de crescimento, diferentemente das vendas domésticas. De janeiro a março, o volume produzido cresceu 24%, para 609,8 mil unidades. “Boa parte desse aumento veio para alimentar as exportações”, revela Megale.

 

Em contrapartida, os licenciamentos tiveram recuo de 1,9% no primeiro trimestre, para 189,1 mil unidades. “Ainda não conseguimos neutralizar a queda do mercado, mas estamos no caminho da estabilização”, garante Megale.

 

Prova disso são os números de março. No período, o setor registrou pela primeira vez desde dezembro de 2014 o primeiro crescimento na base anual. “Se o atual ritmo de venda média diária se mantiver, provavelmente atingiremos nossa projeção para o ano”, acredita Megale. (DCI/Juliana Estigarríbia)