O Estado de S. Paulo
Já havia sinais dessa mudança em 2015, principalmente em decorrência da queda das vendas domésticas, e o movimento se acentuou neste ano, com um salto nas operações internacionais – entre janeiro e setembro, as exportações a partir do Brasil avançaram 43,8% ante o mesmo período de 2015.
Além da desvalorização do real e da relativa perda de competitividade chinesa, uma estratégia montada pela companhia impulsionou as vendas para fora. Em outubro de 2015, uma equipe de 30 funcionários fixou um mapa-múndi na parede e começou a marcar os países em que a Marcopolo havia perdido mercado nos últimos dez anos e que poderiam ser retomados, além de possíveis novas conquistas. “Conhecendo o histórico de exportações da Marcopolo, criamos uma força-tarefa”, conta o CEO da empresa, Francisco Gomes Neto.
Nos 12 meses seguintes, as equipes viajaram 60 países na tentativa de vender seus produtos e amenizar os efeitos da crise econômica brasileira, que devastou o setor automotivo. Desde o auge da empresa, em 2013, até 2015, a Marcopolo viu sua receita líquida recuar 25% e o número de unidades fabricadas cair 46%. “Aumentar as exportações foi a única saída. Aprendemos que não podemos descuidar do mercado externo, mesmo quando o câmbio é desfavorável (como no início da década de 2010), porque a retomada não é fácil.”
O descuido com as vendas internacionais foi consequência do bom momento vivido pelo setor no Brasil até 2013. Os juros a 2,5% ao ano para empresas de transporte e o programa federal Caminho da Escola (que facilitou a compra de veículos por prefeituras) resultaram na explosão das vendas domésticas de ônibus no período.
Para Antônio Jorge Martins, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), especialista no setor, a Marcopolo conseguiu recuperar suas exportações por ter alto nível de internacionalização – são 12 plantas fora do País. Martins afirma, ainda, que as multinacionais instaladas no Brasil não puderam ampliar suas exportações a partir do território brasileiro em igual ritmo, porque precisam negociar com as matrizes para não comprometerem unidades produtivas de outros países.
Sem milagre
Apesar de amenizarem as perdas, as vendas internacionais não chegam a salvar a Marcopolo. Em 2016, ano para o qual se previa um alívio, houve queda de 10% nas receitas de janeiro a setembro.
A companhia acabou fechando uma fábrica no interior do Rio de Janeiro, adquirida no fim do ano passado, quando comprou a concorrente Neobus. Também precisou se desfazer de 7,5% do capital da canadense New Flyer, permanecendo com 10,8% do negócio. Ainda há a intenção de usar a New Flyer para entrar no mercado americano, onde poderia explorar os segmentos rodoviário e de micro-ônibus. Os veículos seriam enviados para os EUA a partir do Brasil ou do México.
Gomes Neto admite que não será possível manter o ritmo de crescimento internacional em 2017. “Neste ano, retomamos mercados onde a Marcopolo era forte, o que não vai se repetir.” O foco, entretanto, continuará lá fora, já que não há sinais de recuperação interna. (O Estado de S. Paulo/Luciana Dyniewicz)