Montadoras buscam inspiração nos carros de superheróis

The Wall Street Journal

 

Depois do lançamento do filme “Capitão América: O Soldado Invernal”, da Marvel, em 2014, os designers da Fiat Chrysler Automobiles NV quiseram colocar as telas de computador futurísticas do filme em carros do mundo real. Para transformar o projeto em realidade, a montadora ítalo­-americana contratou os especialistas em efeitos especiais que criaram os dispositivos do super-­herói.

 

A Perception, empresa de efeitos visuais que é sediada em Nova York e criou o modelo dos aparelhos digitais do universo Marvel, trabalhou com a equipe da montadora para recriar a forma como a informação flui entre carro e motorista.

 

A resultante cabine ­conceito do Jeep, que inclui três telas e um para­brisa com tecnologia de realidade aumentada, foi exibida em janeiro na Feira de Eletrônicos de Consumo de Las Vegas.

 

As telas animadas da cabine, que projetam a velocidade do veículo junto com os pontos principais da rota e os perigos à frente, pareceriam familiares a Nick Fury, o personagem do filme do Capitão América. Mas as funções simuladas do Jeep foram adaptadas ao mundo real, em vez de aos arrojos dos super­heróis. A tela representando o conceito do para­brisa, por exemplo, mostra a visão que o motorista tem da estrada sobreposta por indicações visuais que podem alertar para um carro parado mais adiante, uma faixa de pedestre ou a rota até uma vaga para estacionar.

 

“Em vez de tentar despistar os inimigos, ela pode garantir que você desvie de um pedestre ou pode enxergar através de um prédio e mostrar que um veículo de emergência está prestes a passar por um cruzamento”, diz John Lepore, diretor criativo da Perception.

 

Numa época em que os carros do mundo real ganham funções antes vistas apenas na ficção científica, as montadoras estão lutando para tornar essas funções o mais fácil possível de serem usadas pelos motoristas. Nem sempre elas têm êxito. As empresas têm sido criticadas por colocar telas nas cabines dos veículos consideradas complicadas e uma fonte de distração. A revista “Consumer Reports” e a popular pesquisa anual sobre qualidade automotiva da empresa J.D. Power criticaram empresas pela instalação de interfaces confusas e defeituosas.

 

As fabricantes estão elevando os investimentos em sistemas de telas para estimados US$ 22 bilhões em 2022, ante US$ 10,1 bilhões no ano passado, segundo a firma de pesquisa IHS Markit. E elas estão recorrendo a empresas como a Perception ­ a Ford Motor Co. e a Mercedes­Benz também são clientes ­ para ajudá­las a criar uma experiência do usuário ­ ou UX, no jargão da indústria do design ­ mais atraente.

 

“Quando você tem um mar de crossovers misto de utilitário esportivo e carro de passeio e sedãs compactos e hatchbacks compactos que estão puxando as vendas, como você diferencia?”, pergunta Mark Boyadjis, analista da IHS Markit. “Acaba sendo uma questão do UX do sistema e se o consumidor está satisfeito ou não”, diz ele.

 

No ano passado, a BMW AG incluiu nos sedãs de luxo da sua linha Series 7 um novo recurso que parece ter saído diretamente das telas de cinema: o controle por gestos. Os usuários podem ajustar o volume da música ao girar o dedo no ar ou atender um telefonema com um movimento da mão.

 

Essas interações são “uma coisa com que as pessoas estão sonhando desde ‘Minority Report'”, diz Adrian van Hooydonk, líder de design da BMW Group, referindo­-se ao filme de ficção científica que o diretor Steven Spielberg lançou em 2002 e que é uma espécie de catálogo de designs futurísticos de interfaces com o usuário. “Agora é realidade, e eu vejo toda possibilidade de que vá muito além disso”.

 

A atenção crescente das montadoras às interfaces com o usuário ressalta o dilema delas num momento em que grande parte da indústria automotiva ­ e grande parte do Vale do Silício ­ se prepara para um futuro em que os carros terão habilidades similares às humanas para perceber o que acontece ao arredor e decidir como responder: mesmo um carro autônomo ainda vai precisar fornecer aos passageiros meios de interagir com muitas de suas funções.

 

Chris Rockwell, diretor­-superintendente da firma de design Lextant, do Estado americano de Ohio, cita o filme “Eu, Robô”, de 2014, como uma forma de abordar essa ideia. No filme, o Audi autônomo do personagem de Will Smith parece não dar a ele nenhuma capacidade de dirigir. Mas, quando ele aperta um botão para assumir o controle, um volante surge imediatamente do painel.

 

A colaboração da Fiat Chrysler com a Perception inspirou o diretor de design da montadora, Ralph Giles, a fortalecer sua equipe com profissionais com experiência em animação para criar os painéis da nova minivan Chrysler Pacifica, do sedã Chrysler 300 modelo 2017 e outros carros grandes.

 

“A maior parte da tecnologia que eles usam nos filmes é pura fantasia, mas é tão bem realizada e tão convincente que ajuda você a imaginar o futuro vividamente”, diz Giles. “Com o impecável realismo do cinema, você quase esquece que é um filme e depois de um tempo você se pergunta: ‘Por que não podemos fazer isso hoje?’ Isso meio que força uma aceleração do futuro”. (The Wall Street Journal/Tim Higgins)