O Estado de S. Paulo
Inauguradas justamente num momento em que o mercado brasileiro de veículos começou a travar, após crescer quase dez anos consecutivos e chegar perto de 4 milhões de unidades vendidas, as chamadas “newcomers”, montadoras que entraram em operação nos últimos dois anos, viram seus planos encolherem. Todas elas, contudo, participam do Salão do Automóvel de São Paulo, que abre as portas ao público nesta quinta-feira, 10, com lançamentos e até mesmo anúncio de produção de novos modelos.
A cerimônia de abertura do salão terá a presença do presidente Michel Temer, confirmada na véspera. O evento reúne mais de 500 modelos, dos quais 150 são lançamentos.
A chinesa Chery, que iniciou produção em Jacareí (SP) em março do ano passado e está com a produção suspensa desde julho, informou que vai produzir no Brasil o Arrizo 5 no fim de 2017. Antes, trará o sedã importado da China. A empresa também confirmou o início da produção do novo utilitário Tiggo, a partir de abril.
O presidente da Chery Brasil, Luis Curi, disse que a fábrica está sendo preparada para receber os dois modelos. No caso do Arrizo, segundo ele, não será necessário investimento significativo pois a linha de montagem opera com alta ociosidade. Com capacidade para 50 mil carros ao ano, a fábrica fez menos de 5 mil unidades do Celer e do QQ até agora.
Todos os 320 trabalhadores da produção estão em lay-off (contratos suspensos) por seis meses e só retornam as atividades efetivas em janeiro. “Os investidores chineses estão frustrados, mas acreditam que o mercado brasileiro vai se recuperar em algum momento”, afirma Curi. De 77 revendas que o grupo tinha, restaram 39. “Vamos ter de levantar a rede novamente no futuro”. Um investimento de R$ 120 milhões previsto para a produção de motores teve menos da metade do valor aplicado.
Luxo
No grupo das quatro fabricantes de carros de luxo ou premium – Audi, BMW, Mercedes-Benz e Land Rover –, o ritmo de produção está abaixo do esperado. Inaugurada em 2014 em Araquari (SC), a unidade da alemã BMW, com capacidade para 32 mil veículos anuais, esperava produzir mais de 20 mil unidades no seu segundo ano de operação, mas fará no máximo 17 mil, ainda assim porque foi ajudada por uma encomenda de 10 mil carros para os Estados Unidos.
Segundo o presidente da BMW do Brasil, Helder Boavida, o contrato será cumprido até março e, por enquanto, não há acordo de renovação. A encomenda foi para completar entregas da fábrica na Alemanha, que não dava conta dos pedidos. Para atender a demanda de exportação, a montadora contratou 300 trabalhadores por um ano.
Boavida ressalta que o mercado de veículos premium, que demorou um pouco mais a ser afetado pela crise, agora praticamente acompanha o setor, com queda acima de 20% em relação a 2015. Com seis modelos em linha, o executivo espera uma recuperação em 2017 entre 5% e 7%. “Pior do que está não deve ficar.”
No salão, a BMW tem como uma de suas estrelas o utilitário X2. Ainda apresentado como conceito, o modelo foi apresentado em outubro no salão de Paris e, futuramente, vai dar origem a um veículo e série, ainda sem planos de produção no Brasil.
A expectativa da também alemã Audi era produzir 12 mil unidades do sedã A3 e do utilitário Q3 na linha exclusiva que funciona dentro da fábrica da Volkswagen, em São José dos Pinhais (PR). O volume este ano, entretanto, deve ficar entre 8 mil e 9 mil unidades, informa o presidente do grupo, Jörg Hofmann.
“Apesar de ter sido um ano muito difícil, conseguimos vender 12 mil veículos (entre nacionais e importados), nosso segundo melhor desempenho no País, atrás apenas do ano passado, quando vendemos 17,5 mil unidades”, afirma Hofmann. A marca traz ao salão, entre outros, o superesportivo R8.
Inauguradas neste ano, as unidades da Mercedes-Benz em Iracemápolis (SP) e da Land Rover em Itatiaia (RJ) também operam abaixo do previsto, mas informaram não terem alterado nenhum plano até o momento.
Em 2012, quando as marcas de luxo anunciaram os projetos locais, o mercado brasileiro de veículos premium consumia 60 mil carros por ano e vinha crescendo anualmente. As empresas apostavam em volumes acima de 100 mi unidades em 2016, mas, segundo as fabricantes, deve ficar próximo das 45 mil unidades. Juntas, as quatro marcas têm capacidade para produzir 102 mil veículos. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)