O Estado de S. Paulo
Com previsão de regredir aos volumes de produção de 11 ou 12 anos atrás, a indústria automobilística brasileira aposta nesses últimos dois meses para evitar que os números sejam ainda piores. A expectativa é de que neste mês a produção passe de 200 mil veículos, volume atingido pela última vez em outubro de 2015.
“Novembro será o melhor mês do ano”, acredita o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antonio Megale. Uma das empresas que espera recuperar produção é a Volkswagen, após dois meses seguidos de problemas com o fornecimento de bancos.
Em outubro, a produção de 174,2 mil veículos foi 2,3% melhor que em setembro, mas, no ano, o setor acumula queda de 17,7%, com 1,7 milhão de unidades. A projeção da Anfavea é de encerrar o ano com 2,3 milhões de unidades – 5,5% a menos que em 2015 e próximo do volume atingido em 2005.
Para isso, porém, terá de tirar das linhas de montagem quase 412 mil unidades no bimestre, número que as próprias empresas acham difícil atingir.
O executivo aposta também que a esperada retomada das vendas se concretize a partir deste mês. “Indicadores de confiança do consumidor estão melhorando e o medo do desemprego está diminuindo”, diz, referindo-se ao segmento de carros e comerciais leves. Já a venda de caminhões segue “dramática”, com queda de 31% no ano.
A Anfavea projeta vendas de 2,08 milhões de veículos neste ano – 19% abaixo do anterior –, mas até agora o setor vendeu 1,66 milhão de unidades, um recuo de 22,3% ante igual período do ano passado.
Embora ainda não tenha divulgado projeções para 2017, a Megale trabalha com “crescimento de um dígito parrudo”.
Ele acredita que a projeção feita na semana passada pelo governo para compor o Orçamento do próximo ano, de crescimento de 8,6% nas vendas de veículos, “é um bom número”.
Os sinais de melhora, diz ele, vêm das medidas macroeconômicas que estão sendo adotadas, como a aprovação do corte dos gastos públicos. A Anfavea espera também reflexos dessas medidas no corte de juros para reativar vendas a prazo. No mês passado, apenas 51,7% dos negócios foram financiados.
A baixa produção levou ao fechamento de mais 952 vagas nas montadoras em outubro, somando 6,8 mil demissões no ano. Ainda há 7,7 mil trabalhadores em lay-off ou com jornada reduzida.
Salão
Outra esperança do setor é o impulso que poderá vir do Salão Internacional do Automóvel. O evento bianual começa quinta-feira com 540 carros expostos, sendo 150 lançamentos. “Esperamos que traga a virada que o mercado precisa e que daqui para a frente volte a crescer”, afirma Megale. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)