Setor de autopeças faz cidades renascerem nos EUA

The Wall Street Journal

 

Nathaniel Taste abandonou um emprego de gerente em uma loja do Wal­Mart para aceitar um cargo de nível básico em uma fábrica de autopeças em Moraine, no Estado americano de Ohio, atraído pela vibrante indústria automotiva dos Estados Unidos. A transição de Taste ilustra a nova realidade do mercado de trabalho nesse setor.

 

Taste começou ajudando a limpar uma fábrica abandonada de utilitários esportivos na parte sul da cidade. Ali, sua vassoura não servia apenas para varrer o chão, como também para enxotar os guaxinins. Hoje, ele é supervisor de produção. E outros trabalhadores como ele, dispostos a aceitar salários mais baixos e menos benefícios, são fundamentais para o renascimento dos empregos de produção nas cidades do chamado Rust Belt, ou “Cinturão da Ferrugem”, na região nordeste dos EUA.

 

“Era preciso usar máscara para entrar neste lugar”, diz Taste, lembrando seu início na empresa, em dezembro de 2015. Sua empresa, a Fuyao Glass Industry Group, é pouco conhecida em Ohio e no setor automobilístico americano em geral. E Taste, que tem 59 anos, apostou seu futuro em “algo que não conseguia ver”.

 

O que a maior fabricante de vidros automotivos da China precisa que Taste e seus colegas de trabalho vejam é o futuro da indústria automobilística americana. Os empregos antes oferecidos pela General Motors Co., pagando US$ 70 mil por ano e aposentadoria completa para montar utilitários esportivos, foram substituídos por um salário inicial de US$ 12 por hora e cobertura para a maioria, mas não todos, os custos de saúde.

 

As autoridades locais dizem que a chegada da Fuyao a Moraine foi uma dádiva que ajudou a estancar a derrocada econômica causada pela saída da GM, assim como o fechamento da transportadora de encomendas DHL, pertencente à Deutsche Post AG, e da NCR Corp., fabricante de caixas eletrônicos.

 

A Fuyao contratou 2 mil pessoas desde que assumiu a fábrica, dois anos atrás, produzindo para­brisas e vidros que futuramente devem suprir 25% da produção norte­americana de carros e caminhonetes. Ela é o elemento central de um investimento de US $ 1 bilhão que o fundador da Fuyao, Cho Tak Wong, pretende concluir até o fim de 2017.

 

Em entrevista ao The Wall Street Journal, Cho disse que concordou em instalar a fábrica nos EUA em 2016, depois de ter ganho um importante contrato de fornecimento para a GM. Ele espera, com o tempo, ampliar sua força de trabalho nos EUA para 3 mil pessoas.

 

A prefeita de Moraine, Elaine Allison, diz que a cidade de cerca de 6.300 habitantes está “apenas começando a ver os benefícios” do investimento da Fuyao. A rua principal da cidade, por exemplo, foi recentemente repavimentada graças a recursos obtidos com a taxa de 2,5% de imposto de renda que os trabalhadores pagam. “Foi simplesmente uma bênção para nós”, diz ela.

 

A Fuyao faz parte de um grupo de novas empresas que estão criando postos de trabalho em uma indústria automobilística que hoje parece muito diferente daquela que desabou durante a crise financeira. A americana Tesla Motor s Inc., a espanhola Gestamp, a chinesa Yangfeng Automotive Trim Systems Co. e muitas outras

construíram ou reformaram suas fábricas.

 

Algumas dessas empresas, incluindo a Fuyao, preencheram um vácuo deixado por fornecedores de autopeças que fecharam as portas ou, em alguns casos, foram comprados por firmas de private equity durante a crise financeira.

 

A nova fábrica da Fuyao em Moraine traz um acréscimo muito necessário à capacidade de produção de vidros automotivos nos EUA.

 

Como resultado, a produção automotiva emprega quase um milhão de pessoas no país, o maior número desde 2008, ano em que a GM fechou a fábrica de Moraine, segundo o Departamento de Estatísticas do Trabalho dos EUA. Os trabalhadores do setor, porém, ganham um salário médio por hora 3% menor do que a média de oito anos atrás.

 

É um remédio amargo para Moraine e também para Dayton, uma cidade próxima. Richard Stock, diretor do Business Research Group, na Universidade de Dayton, estima que, embora o emprego esteja aumentando, os salários estão diminuindo. “Perdemos cerca de US$ 120 (por pessoa) por semana”, diz, observando que, num período de oito anos, a região deixou de ganhar mais que a média nacional para ganhar menos.

 

“Aqueles empregos de antigamente na GM já não existem mais”, diz Allison. Segundo a prefeita ­ que também é responsável pelos empréstimos para pessoas jurídicas e, nesse papel duplo, está envolvida na gestão da cidade desde os anos 90 ­, os moradores se adaptaram a uma “nova realidade”.

 

Stock ressalta que, além da Fuyao, firmas de serviços de logística ou armazenagem vêm substituindo as da velha guarda. Embora seja mais difícil ganhar US$ 14 ou US$ 15 por hora, diz, “as pessoas que desprezam esses empregos não têm nenhuma simpatia por aqui”.

 

Mesmo com salários mais baixos, a força de trabalho americana continua cara para uma firma chinesa que, até há pouco tempo, vendia vidro da China para uma fábrica da Honda Motor Co. em Ohio.

 

Os produtos da Fuyao podem custar às montadoras entre US$ 100 e US$ 200.

 

Percorrendo a fábrica, o diretor­superintendente da Fuyao Glass America, John Gauthier, calcula que os operários de Moraine são cinco vezes mais caros do que os chineses. Para manter os custos baixos, a Fuyao está usando muitos robôs nos EUA. Os funcionários têm a missão de encontrar novas formas para substituir o trabalho humano, embora Gauthier tenha dito que trabalhadores como Taste sempre serão necessários na indústria do vidro. “Queremos quem realmente queira colocar mão na massa”. (The Wall Street Journal/John D. Stoll)