O Estado de S. Paulo
Depois de quatro edições voltadas para veículos mais econômicos, para os combustíveis alternativos e para a conexão à internet, o Salão do Automóvel de Paris 2016 começa neste sábado, 1º, com um novo protagonista: o veículo autônomo. Nada menos do que 19 montadoras e fornecedores apresentarão promessas de carros dirigidos por computador – realidade que, segundo os mais otimistas, pode chegar ao público em 2018.
O Mundial do Automóvel, nome oficial do mais antigo e visitado salão do setor do planeta, chega a sua 119.ª edição em clima de otimismo, com vendas em alta na Europa, virando a página da crise iniciada em 2007. Superada a turbulência que ameaçou a sobrevivência de grandes marcas, em 2016 o evento reflete a preocupação das montadoras em realizar sua própria revolução digital, de forma a lhes garantir um futuro. E nada mais importante do que mostrar um máximo de tecnologia embarcada, cujo símbolo é o automóvel autônomo.
Pelos corredores de Porte de Versailles, os fãs testemunham os investimentos em veículos inteligentes, que dispensam o condutor e são, segundo seus fabricantes, mais seguros. A americana Tesla, do bilionário Elon Musk, afirma ser capaz de apresentar o veículo sem motorista a partir de 2018. Já a coreana Hyundai é mais comedida: prevê a comercialização para 2030. Entre um e outro, a maioria das montadoras prevê oferecer os automóveis autônomos por volta de 2020 ou em 2021.
O otimismo é concreto porque empresas de tecnologia como Google, Tesla e Uber têm investido bilhões em pesquisa e desenvolvimento, o que obriga as montadoras tradicionais a correr atrás do tempo perdido. Em Paris, o grupo PSA, que reúne as marcas Peugeot, Citroën e DS, apresentou sua nova marca de veículos tecnológicos, o Free2Move, focada em serviços de mobilidade. “Sabemos que somos um dinossauro, mas não queremos desaparecer”, afirmou o diretor-presidente, Carlos Tavares, na quarta-feira.
Soluções semelhantes serão apresentadas em Paris por construtores de luxo, como Audi, ou mesmo por marcas coadjuvantes no mercado, como a checa Skoda ou a espanhola Seat. A Tesla mostrará sua tecnologia AutoPilot, enquanto a startup Drive.ai ostenta em seu portfólio clientes gigantes como Google, GM e Nissan.
A corrida é para decidir que montadora terá o primeiro veículo sem condutor rodando nas ruas. Mas uma série de dificuldades de ordem legal ainda impede que os testes já realizados em rodovias dos Estados Unidos e da Europa cheguem às concessionárias. Um exemplo: se o automóvel não tem motorista, quem pagará a conta de eventuais processos por acidentes: a montadora ou o criador dos algoritmos que orientam a navegação do veículo?
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Enquanto a revolução dos automóveis autônomos ou semiautônomos não se concretiza, em Paris duas tendências se confirmam: a primeira é a multiplicação dos lançamentos de veículos movidos a energia elétrica. Um exemplo é a alemã Volkswagen, centro do escândalo de fraudes nas emissões de poluentes em motores a diesel. Investindo para reverter a imagem, a montadora apresenta seus dois maiores sucessos, Passat e Golf, agora movidos a eletricidade.
Embora para muitos ainda seja difícil confiar na empresa, a Volks promete autonomia de até 600 quilômetros sem reabastecimento – bem mais do que os 400 quilômetros projetados pela Renault, que apresentou a nova versão da Zoe. O objetivo da montadora alemã é fazer o cliente esquecer o passado. Questionado sobre se a Volks paga sozinha pelos erros de todas as montadoras, Matthias Müller, presidente do grupo, não hesita: “Honestamente, eu acredito que sim”.
A segunda tendência em Paris é uma reafirmação: a onda já vinha crescendo em 2014, mas as SUVs agora de fato conquistaram a Europa, após anos de resistência. Peugeot, com as versões 3008 e 5008, chega para enfrentar Kazar e Koleos, da rival Renault. Outros exemplos: Audi Q5 ou Land Rover Discovery, prova de que os veículos 4×4 estão de fato tomando as ruas também em solo europeu.
Embora seja, ao lado do Salão de Frankfurt, um dos eventos mais emblemáticos do setor, o Salão de Paris também enfrenta sua própria transformação. Montadoras como Ford, Mazda, Volvo, Bentley e Aston Martin preferiram não se apresentar – sinal das mudanças no setor. (O Estado de S. Paulo/Andrei Netto)