The New York Times
Parado em uma rua de cascalho na frente da velha fábrica da Heinz, na segunda-feira de manhã, eu estava bem frustrado. Meu Uber autônomo não saía do lugar.
O engenheiro que estava no banco do passageiro, funcionário do Uber há três semanas, me perguntou se eu queria assumir o volante e disse que eu precisava desligar o carro e ligá-lo outra vez, como se estivesse reiniciando um computador.
Nesse caso, meu “computador” era um Ford Fusion híbrido modificado, apelidado de Boron 6, um elemento atômico frequentemente encontrado em imãs, detergente e reatores nucleares. O Uber equipou o carro com mais de 20 câmeras, 7 lasers, um sistema de detecção a laser capaz de virar 360 graus, e mais 1.400 acessórios que produzem milhões de bits de dados a respeito do ambiente em tempo real, à medida que se locomove. Caso o carro funcione um dia conforme o esperado, nunca mais outra pessoa precisará se sentar no banco do motorista.
Eu pude viver essa experiência em primeira mão nesta semana com o carro da empresa, andando com o Boron 6 durante cerca de uma hora no horário de trânsito leve no centro da cidade. No dia 14, o Uber deu início ao programa-piloto de carros autônomos com a ajuda de seus clientes mais fiéis em Pittsburgh, dando a eles a chance de chamar um Uber autônomo pela primeira vez. Na fase de teste, um punhado de veículos – Ford Fusions, para começar – vai sair às ruas acompanhado de um engenheiro de segurança que foi treinado para assegurar ao cliente de que o carro é seguro.
Segurança
Durante a minha viagem, passada em sua maioria como passageiro no banco de trás do Boron 6, meu engenheiro de segurança se mostrou digno do trabalho. Em vários momentos ele pediu para que eu assumisse o controle e entrasse em cruzamentos onde muitas pessoas passam em alta velocidade. Quando um caminhoneiro entrou de forma irregular na estrada, ele pisou no freio, assumindo imediatamente o controle do veículo.
Caso o engenheiro de segurança se sentisse inseguro, ele poderia apertar a qualquer momento um grande botão vermelho no centro do painel – curiosamente similar ao ejetor de emergência do carro de um filme do James Bond –, de forma a desligar o modo autônomo. Para religar o sistema, ele precisava apenas apertar um discreto botão de metal próximo ao logo que enfeitava o painel.
Caso eu me sentisse inseguro como passageiro, poderia pedir para que o motorista assumisse o veículo, ou poderia apertar um botão em uma tela na parte de trás do assento, encerrando a corrida na mesma hora.
O mais importante é que, durante a maior parte da viagem, eu me senti seguro. No modo autônomo, as curvas e paradas eram praticamente impecáveis e muitas vezes eu tinha de olhar para o motorista para saber se era ele ou o computador que estava no comando. É verdade que fiquei um pouco nervoso algumas vezes, quando percebi que o computador passava muito perto dos carros estacionados do lado direito da rua. Contudo, admito que talvez estivesse mais alerta que de costume com o ambiente ao meu redor.
Sob muitos aspectos, Pittsburgh é o ambiente de testes perfeito para a empresa. Raffi Krikorian, diretor de engenharia do Centro de Tecnologias Avançadas do Uber, localizado no distrito industrial da cidade, afirmou que “Pittsburgh tem um trânsito caótico”.
O desafio expresso por Krikorian foi assumido de corpo e alma pelo Uber. Do ponto de vista da empresa, o carro autônomo funciona com muito mais segurança do que qualquer motorista humano.
Meu Uber autônomo parou muito atrás dos carros da fila da frente nos cruzamentos. Ele ficou exatamente dentro do limite de velocidade – 40 quilômetros por hora nos locais por onde passamos – mesmo quando não havia outros carros na pista.
Esse futuro é uma promessa antiga. A primeira vez que falaram em carros autônomos foi nos anos 50, com imagens de famílias jogando dominó no banco de trás. Algumas pessoas envolvidas no projeto do Uber passaram a carreira toda trabalhando no conceito.
Mas não se sabe ao certo como eles vão ganhar dinheiro com isso. Além disso, o Uber não é o primeiro a apostar pesado nos carros autônomos, com Google, Apple, Tesla, Mercedes-Benz, BMW e Infiniti oferecendo ou desenvolvendo veículos com essa característica.
Todas essas empresas enfrentam incertezas no ambiente regulatório, que poderiam impedir que os veículos autônomos saíssem às ruas nos EUA.
Haverá atrasos e problemas, tais como os que enfrentei na primeira vez, quando o carro não quis sair do lugar. Mas essa é a função dos testes. (The New York Times/Mike Isaac)