O Estado de S. Paulo
A Volkswagen cortou em 13% o efetivo empregado na fábrica de São Bernardo do Campo (SP) durante o programa de demissões voluntárias (PDV) aberto, no início do mês passado, no parque industrial onde são montados os modelos Gol, Saveiro e Jetta. No total, 1.337 trabalhadores deixaram a montadora pelo PDV, segundo balanço divulgado pelo sindicato dos metalúrgicos da região. Antes do programa – no qual a empresa oferecia 20 salários extras, além do pagamento de meio salário por ano trabalhado -, a fábrica empregava cerca de 10,5 mil pessoas. Procurada, a Volks disse que não comentaria os números.
As adesões ao PDV foram expressivas, mas, dada a grave crise enfrentada pela indústria de veículos, não resolvem o excesso de mão de obra que somava 3,6 mil empregados nas linhas do grupo no ABC.
Por isso, mesmo com o plano de acelerar a produção para repor estoques nos próximos dois meses, a Volkswagen mantém afastados da produção 470 operários que, junto com o restante do quadro de funcionários, deveriam ter voltado ontem das férias coletivas que paralisaram a unidade por mais de um mês devido à falta de peças. Desse grupo, apenas 52 vão retornar ao trabalho no dia 3 de outubro. A partir da mesma data, os demais 418 terão os contratos temporariamente suspensos no regime conhecido como “lay-off”, no qual os empregados ficam afastados por até cinco meses, com parte do salário (R$1,4 mil) bancada pelo governo.
No mesmo acordo que permitiu a realização do PDV entre 4 de agosto e 12 de setembro, a montadora já tinha acertado a renovação do PPE, o programa de proteção ao emprego que permite a empresas reduzir jornadas e salários. Em troca, os empregadores são proibidos de demitir de forma arbitrária ou sem justa causa.
Pelo PPE, a Volkswagen vinha diminuindo a carga de trabalho em 20%, o equivalente a um dia por semana sem atividade. No entanto, o sindicato informa que, na nova fase do programa, a montadora poderá ampliar a redução de jornada para 30%, o que, para os empregados, significaria uma perda de 15% nos salários. Outros 15% são cobertos por recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).
No pior nível em uma década, as vendas de veículos continuam mostrando neste mês um desempenho considerado “decepcionante”. Até ontem, o ritmo dos emplacamentos recuava 22,3% na comparação com setembro do ano passado, em conta que engloba carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus. Frente a agosto, as vendas nas concessionárias estão quase 5% menores, revela o diretor de uma grande montadora.
“Vemos que, após a troca de governo, a melhora dos índices de confiança não se traduz em atitude de compra no mercado automotivo. As pessoas seguem reticentes sobre o que vai acontecer no País”, afirma o executivo, acrescentando que a indústria já se prepara a um mercado que não deve chegar a 2 milhões de veículos neste ano – cerca de 22% a menos do que em 2015. “Isso representa um impacto enorme na cadeia de fornecedores. Só resta à indústria fazer o ajuste, seja de mão de obra, seja da rede de concessionárias ou de fornecedores. A capacidade ociosa é brutal”. (O Estado de S. Paulo/Eduardo Laguna)