Mais um trimestre ruim

O Estado de S. Paulo

 

Com baixo consumo, desemprego elevado e quase nenhum investimento, a economia continua debilitada e as melhores notícias, por enquanto, são os sinais de estabilização. O terceiro trimestre deve terminar um pouco melhor do que começou, mas empresas, trabalhadores e consumidores ainda sofrem os efeitos da enorme insegurança da transição política. Bem mais sensível durante o longo processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, essa insegurança foi, com certeza, um dos fatores determinantes, em julho, da nova contração dos negócios apontada pelo Banco Central (BC) em seu Índice de Atividade Econômica (IBC-Br). De junho para julho esse indicador caiu 0,09% e ficou 3,45% abaixo do nível de um ano antes. A média de sete meses foi 5,53% inferior à do período de janeiro a julho de 2015. Em 12 meses, a queda chegou a 5,61%. Todos esses números são da série calculada com desconto dos fatores sazonais.

 

O cálculo do BC, publicado mensalmente, é usado como sinalizador de tendência do Produto Interno Bruto (PIB), divulgado apenas a cada três meses pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dois levantamentos podem produzir números diferentes, mas o IBC-Br geralmente dá uma boa ideia da evolução da atividade. Os dados parciais de julho exibidos por várias instituições oficiais e privadas já haviam composto um cenário pouco entusiasmante. Mesmo com crescimento mensal de 0,1%, a produção industrial ainda ficou, em julho, 6,6% abaixo do nível observado um ano antes. De junho para julho, as vendas no varejo diminuíram 0,3% e a desocupação continuou em alta.

 

O suspense político prosseguiu em agosto, até a confirmação, no dia 31, do afastamento definitivo de Dilma Rousseff da Presidência da República. A inflação continuou pressionando os consumidores, enquanto o desemprego permaneceu elevado e o aperto das famílias prosseguiu. Um dos primeiros números de agosto apontou o fechamento de mais 11 mil vagas nas fábricas paulistas, com o nível de emprego caindo 0,27% – com ajuste sazonal – em relação ao do mês anterior, segundo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

 

Outro indicador importante, a produção total de autoveículos, voltou a piorar. Depois de subir entre abril e julho, o total fabricado pelas montadoras diminuiu 6,4% em agosto. O acumulado no ano, 1,38 milhão, foi 24,3% menor que o número produzido de janeiro a agosto de 2015.

 

Com crédito curto e escasso, consumidor inseguro e retraído e sem os incentivos fiscais mantidos durante anos pelo governo anterior, o setor automobilístico e a indústria de eletrodomésticos inevitavelmente recuaram. Por um longo período os governos petistas conservaram a ilusão de promover o crescimento econômico e a geração de empregos por meio do aumento do crédito, da oferta de incentivos ao consumo e da gastança pública sem limites. Enquanto sustentaram esse jogo, os governantes do PT negligenciaram as medidas necessárias ao avanço da produção, da eficiência e da produtividade.

 

A melhora de humor de empresários e consumidores – mais pela redução do pessimismo do que por um surto de entusiasmo – alimenta apostas numa evolução econômica mais favorável. O mercado continua projetando contração econômica em 2016. A última estimativa recolhida na pesquisa semanal do BC aponta um recuo de 3,15% para o PIB neste ano e um crescimento de 1,36% em 2017.

 

A expansão prevista para o próximo ano ficará bem abaixo da necessária para levar a atividade ao nível de 2014 e para recompor a oferta de emprego, especialmente no setor industrial, o mais afetado pela crise. A indústria perdeu dinamismo a partir da metade do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. Ministros econômicos e seus principais assessores têm apostado numa virada a partir do trimestre final de 2016. Mas isso dependerá, em primeiro lugar, de sinais mais claros de avanço nos ajustes. A confiança é um insumo indispensável à reativação. (O Estado de S. Paulo)