O Estado de S. Paulo
O presidente Michel Temer anunciou ontem, que vai retomar a ideia das câmaras setoriais – grupos foram criados no início dos anos 1990, com a finalidade de combater os efeitos da crise econômica por meio de compromissos assumidos entre empresários, trabalhadores e governo.
Em nota, a Secretaria de Comunicação Social afirmou que os grupos temáticos vão reunir “empregadores e trabalhadores com o objetivo de gerar empregos”. Segundo o comunicado, “as áreas específicas da produção nacional serão chamadas para discutir matérias relacionadas ao crescimento econômico de cada setor”.
A iniciativa foi confirmada pelo Palácio do Planalto após deputados afirmarem que Temer faria um anúncio importante para a economia ainda nesta quinta-feira. O presidente almoçou com líderes do chamado “Centrão”, uma espécie de fiel da balança nas votações da Câmara, formado por partidos como o PP, PSD e PTB.
Segundo relatos dos deputados, a medida é uma demanda que já existia no Congresso e vinha sendo estudada. A estratégia seria alinhar esses trabalhos setoriais com os projetos de ajuste fiscal, como a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que institui um teto para o gasto público, para atrair investimentos.
De acordo com a Secretaria de Comunicação do Palácio do Planalto, caberá aos próprios parlamentares a definição de quais setores integrarão as câmaras setoriais. Os trabalhos devem ser coordenados pelo ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima.
Entre os defensores da proposta está o líder do PSD na Câmara, Rogério Rosso (DF), e o presidente do Solidariedade, deputado Paulo Pereira da Silva (SP), que comanda a Força Sindical. Para Paulinho da Força, entre os setores que devem ser favorecidos estão o automobilístico e o da construção civil, inclusive a construção pesada.
Pela proposta de Rosso, pelo menos 17 setores deverão ser contemplados, entre eles o do agronegócio, comércio e serviços, eletroeletrônica, automotivo, têxtil, mineração e turismo. Ele comemorou a decisão de Temer encampar a proposta. “O recado que o governo quer passar é que está com um olho no ajuste fiscal e um olho no setor produtivo. Isso é muito importante para que o País volte a crescer”, disse. Ainda não há data para que as câmaras setoriais comecem a se reunir.
Para o cientista político da Tendências Consultoria, Rafael Cortez, a retomada das câmaras setoriais é um ponto potencialmente positivo para a aprovação da agenda de reformas. “Mas, dada a necessidade de buscar consenso, que em geral acaba resultando em algo mais conservador, há um risco de decepcionar os agentes econômicos”, disse. (O Estado de S. Paulo/Carla Araújo Isadora Peron)