DCI
A indústria brasileira de autopeças está defasada. Ao menos essa é a impressão que montadoras e sistemistas vêm deixando cada vez mais clara. “A situação da nossa indústria é crítica. As empresas de autopeças estão fragilizadas e não têm capital para investir. Em breve vamos trazer uma nova plataforma de produção e só vai fornecer para nós quem estiver preparado”, afirmou nesta terça-feira, 13, o presidente da Volkswagen do Brasil, David Powels, em fórum do setor.
Para o diretor-presidente do Insper, Marcos Lisboa, a crise atual é resultado de uma indústria altamente protegida que, em vez de estimular a competitividade, induziu ao consumo de peças de fornecedores locais para obtenção de subsídios. “Regras de conteúdo local não funcionam. Ganho de competitividade vem de uma indústria eficiente”, observou. Já o presidente da Fiat Chrysler Automobiles (FCA) na América Latina, Stefan Ketter, declarou que o problema é tão grave que falta matéria-prima na indústria local. “Hoje a cadeia de fornecedores está mais destruída do que nunca”, avaliou.
As empresas nacionais de autopeças correspondentes aos níveis 2 e 3 da cadeia vêm sofrendo há um bom tempo. Quando a indústria automotiva deu seu maior salto, em meados de 2012, a falta de competitividade já dava alguns sinais, ainda que em menor escala.
No entanto, com a deterioração da economia, valorização cambial e queda das vendas de veículos, fabricantes dos tiers 2 e 3 se viram ainda mais imersos em uma crise sem precedentes. “O diagnóstico da cadeia é muito claro: o problema é a falta de investimentos”, destacou o presidente da sistemista Bosch, Besaliel Botelho.
Powels, da Volkswagen, assim como Ketter, da FCA, reforçam o argumento de que o governo precisa agir para auxiliar a cadeia. “Este é o momento para discutirmos uma agenda de longo prazo. A indústria está sofrendo um desmonte”, ressaltou Ketter. Powels destaca que muitos fornecedores de autopeças são de pequeno porte, com problemas de produtividade e difícil acesso a crédito para investir.
Inovar-Auto
Lançado em 2012, o Inovar-Auto previa benefícios para montadoras que produzissem localmente e atendessem a um conjunto de exigências. Uma das mais importantes é o índice mínimo de 60% de conteúdo local. Um sistema de rastreabilidade até foi criado para fiscalizar a atividade, entretanto, executivos do setor reclamam do alto custo para manter esse mecanismo.
Já representantes de autopeças se queixam que o regime automotivo não favoreceu a cadeia local. O presidente da Anfavea, Antonio Megale, admite que o Inovar-Auto pouco beneficiou os tiers 2 e 3. “O segmento de autopeças segue muito fragilizado, vivendo talvez a pior crise da história”. Megale acrescentou que a Anfavea tem mantido diálogo com o segmento de autopeças, através do Sindipeças.
O dirigente salientou ainda outro ponto importante nessa conjuntura, que é a meta de expansão das exportações de veículos. Diante de um mercado doméstico deprimido, as montadoras estão voltando todos os olhos para o exterior. No entanto, com o advento cada vez maior de plataformas globais de produção, as empresas terão que estar preparadas. “A cadeia de autopeças tem que ser reforçada e capaz de produzir para o Brasil e o mundo”, considerou Megale.
O Inovar-Auto acaba ao final de 2017 e, até lá, o setor precisa buscar um diálogo com o governo para descobrir qual será a nova política para a indústria automotiva. (DCI)