Cresce procura por câmbio automático

Jornal do Carro

 

O naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882) não viveu o suficiente para conhecer o automóvel. Mas sua teoria de evolução dos animais (segundo a qual os organismos mais bem adaptados ao meio têm maior chance de sobrevivência) poderia ser aplicada aos carros.

 

O trânsito congestionado das grandes cidades está exigindo uma transformação do automóvel. Aos poucos, o pedal de embreagem e o câmbio manual estão sendo substituídos pela transmissão automática.

 

Os números comprovam a mudança. Em 2011, 10% dos carros vendidos no Brasil eram automáticos – no ano passado, a participação chegou a 25%.

 

O designer gráfico Pedro Hiraoka engrossa a estatística: ele nunca teve veículo manual. Embora tenha habilitação desde os 19 anos, só aos 34 ele comprou seu primeiro automóvel, um Hyundai Atos. “Era o automático mais barato da época”, relembra. O objetivo da aquisição era poder levar a esposa, que estava grávida, à maternidade, quando chegasse o momento do parto. Não precisou: como moravam perto do hospital, foram a pé.

 

O carrinho sul-coreano permaneceu na família por cerca de dois anos, tempo suficiente para o casal concluir que seu porta-malas seria insuficiente para acomodar os apetrechos do bebê, como o carrinho.

 

A solução foi trocá-lo por um Honda Fit, que depois deu lugar a outro modelo igual – todos com câmbio automático. “Se tiver de dirigir um carro manual, vou ter dificuldade”, afirma o designer. “Aliás, se soubesse que minha mulher iria a pé para a maternidade, acho que não teria comprado o primeiro carro e não dirigiria até hoje”, conta.

 

A funcionária pública Maria Loisa de Oliveira é outra que optou por um veículo automático logo na primeira compra. Apesar de admitir que nunca teve muito interesse em ser dona de um carro, ela decidiu que havia chegado a hora quando mudou de emprego e foi trabalhar longe de casa.

 

Como tinha pouca experiência ao volante, optou por um Honda City 2014. “Quando pesquisei, notei que a diferença de preços entre o manual e o automático era pequena”, diz.

 

Puristas

 

Também há motoristas fiéis ao câmbio manual. Segundo informações da Volkswagen, 30% dos Golf vendidos no Brasil têm pedal de embreagem. Para o aposentado Paulo Roberto Augusto de Oliveira, o câmbio automático tira o prazer na hora de dirigir.

 

Ele é dono de um Citroën C4 Pallas com câmbio manual comprado novo em 2011. Gosto de sentir o carro”, diz. Antes do sedã ele teve Palio Adventure e Monza, todos manuais.

 

O cozinheiro Laércio Aprigio Gouveia nunca dirigiu um carro automático em seus 48 anos de vida, e afirma que vai se manter fiel ao manual. Atualmente, ele planeja trocar seu Polo Sedan por um Jetta, também da Volkswagen.

 

“Não tenho interesse em comprar um automático”, diz Gouveia, que antes do Polo teve Chevette, Monza e Corsa.

 

Conforto nos compactos

 

A partir da linha 2017, a Spin Activ – versão aventureira da minivan da Chevrolet – passou a ser oferecida apenas com câmbio automático. Não é um movimento isolado. As montadoras estão reagindo a uma mudança do comprador, que tem dado preferência aos modelos sem pedal de embreagem.

 

Nos carros mais caros – na faixa de R$ 70 mil em diante –, o câmbio automático é quase padrão. O fato novo é o aumento da procura pelo sistema em modelos mais acessíveis.

 

É o caso, por exemplo, da Toyota. Em abril, a marca lançou a transmissão automática para a linha Etios (hatch e sedã). Na ocasião, a empresa divulgou que pretendia vender 40% desses modelos sem pedal de embreagem, mas a nova opção já está em 55,2% do total, de acordo com a montadora.

 

A Nissan seguiu o mesmo caminho. Na linha 2017, apresentada em junho, a transmissão automática continuamente variável (CVT) passou a ser oferecida para a linha March e Versa com motor 1.6. E a estratégia já está surtindo efeito.

 

Segundo dados da empresa, o câmbio automático já está em 63% dos sedãs vendidos, porcentual que no hatch chega a 24%. Graças à nova opção, a montadora informa que o Versa vem registrando aumento do número de emplacamentos. De junho a agosto os emplacamentos foram, em média, 18% maiores que os de janeiro a maio, coincidindo com a chegada do CVT à linha.

 

De modo geral, a participação da transmissão automática é maior em sedãs e monovolumes do que em hatches. Segundo dados fornecidos pela Chevrolet, o Onix automático responde por 30% do mix do modelo. No caso do sedã Cobalt são 40% e na minivan Spin chega a 60%.

 

O Fiesta com câmbio Powershift (automatizado) responde por 35% das vendas do modelo, de acordo com dados da Ford. Já no caso do 500, a Fiat garante que metade das vendas refere-se a modelos equipados com caixa Dualogic (automatizada).

 

Variedade

 

O aumento de vendas de carros novos sem pedal de embreagem está relacionado à oferta variada de sistemas. Caixas automatizadas (Fiat Dualogic e VW I-Motion, por exemplo) são mais baratas. Além disso, a opção de câmbios de quatro marchas (como o do Etios) reduz os custos do automático. (Jornal do Carro)