Queda de vendas no Brasil causa prejuízo bilionário a fabricantes

O Estado de S. Paulo

 

Nos últimos dois anos e meio, apenas duas das quatro maiores montadoras do País – as americanas General Motors e Ford – somaram prejuízos de US$ 3,9 bilhões na América do Sul, região em que o Brasil responde por quase 60% das vendas. As duas marcas e a Fiat Chrysler são as únicas que divulgam balanços financeiros na região.

 

O grupo Fiat Chrysler teve lucro de US$ 218 milhões em 2014 e prejuízo de US$ 78 milhões no ano passado. No primeiro semestre deste ano, voltou a se recuperar e registrou ganho de US$ 10 milhões. A Ford, contudo, perdeu no período US$ 521 milhões, quase 40% a mais que em igual intervalo de 2015.

 

A GM, por sua vez, teve prejuízo de US$ 188 milhões, melhora significativa em relação ao resultado negativo de US$ 358 milhões no primeiro semestre de 2015. “Provavelmente a empresa adotou medidas de eficiência, redução de custos e de pessoal”, afirma o diretor da Roland Berger, Rodrigo Custódio.

 

Ele acredita que o quadro de perdas se estenda para a maioria das demais montadoras. O setor opera com menos de 50% de sua capacidade produtiva, de 5,3 milhões de veículos, atingida nos últimos anos com a inauguração de novas fábricas.

 

Uma das novas construções, a unidade da Honda em Itirapina (SP), ficou pronta no fim de 2015, mas até hoje não ligou as máquinas. A fábrica com capacidade para 120 mil carros ao ano está fechada, à espera da retomada do mercado. Não há previsão de quando será inaugurada.

 

Competitividade

 

O único dado positivo das montadoras são as exportações, em parte ajudadas pela questão cambial.

 

No ano passado as vendas externas somaram 417 mil veículos, quase 25% a mais     que em 2014. Neste ano, a previsão é de superar 500 mil unidades.

 

O problema é que o carro nacional só consegue chegar a países da América Latina, cuja demanda total é inferior ao mercado brasileiro. Além disso, para alguns deles, é mais barato importar da China ou dos Estados Unidos.

 

“O Brasil precisa sair para fora da América Latina, pois o mundo é muito maior que isso”, diz Custódio. Mas a falta de acordos comerciais com outros países, e principalmente a falta de competitividade do produto nacional, torna esse caminho bastante difícil.

 

O consultor da Roland Berger cita, por exemplo, o nível de automação – que é um elemento de competitividade – na indústria local. “O Brasil tem 30 mil robôs nas fábricas e, para se equiparar à média mundial precisaria ter 200 mil”.

 

Outro exemplo é a falta de escala de produção. Levando-se em conta a grande quantidade de modelos produzidos no País, a média brasileira é de 30 mil unidades ao ano por modelo. Nos EUA é de 110 mil, no México de 90 mil e na Alemanha de 80 mil. Segundo Custódio, o investimento em um novo carro é muito alto e, sem escala produtiva, pode ser inviável.

 

Outro fator citado por ele é a urgente necessidade de recuperação do parque de fornecedores, que passa por grandes dificuldades e muitas empresas estão quebrando ou entrando em recuperação judicial. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)