O Estado de S. Paulo
A queda da produção de veículos de 6,4% entre julho e agosto não significa que a recessão foi mais intensa no mês passado, mas que as montadoras decidiram ajustar os estoques à demanda, evitando os ônus financeiros dos encalhes. Reduzir os estoques para 34 dias, número próximo do ideal de 30 dias, indica uma posição sensata do setor, ainda que deixe explícita uma nova realidade: a produção em 12 meses deverá girar em torno dos 2 milhões de veículos, pelo menos até que se confirme a recuperação prevista pela associação das montadoras (Anfavea) para o fim deste ano ou início do ano que vem.
Houve diminuição da produção para o pior nível em 13 anos, mas foram mais favoráveis os números sobre os licenciamentos, que subiram 1,4% entre julho e agosto, para 183,9 mil unidades.
Nos primeiros oito meses do ano, para uma queda da produção de 20,1% em relação a igual período do ano passado, as vendas diminuíram 23,1%. Foi o que determinou o ajuste das fábricas.
Outro sinal conjuntural favorável foi o do aumento de 12,5% das vendas internas no atacado de máquinas agrícolas e rodoviárias, de 4 mil em julho para 4,5 mil em agosto. É um indício de retomada do investimento, depois de quedas muito acentuadas entre os períodos de janeiro a julho de 2015 e de 2016 (-22,1%) e nos últimos 12 meses (-32,1%), comparativamente aos 12 meses anteriores.
As exportações de US$ 924 milhões caíram 1,9% em relação a julho, mas cresceram 13,1% em relação a agosto de 2015. Quanto às importações, apesar da valorização do real, foram 8% inferiores às de agosto de 2015. A participação dos veículos importados nos licenciamentos foi de 13,1%, a menor no ano.
O custo do ajuste da produção recai sobre a mão de obra, com corte de 885 vagas entre julho e agosto e 8.371 vagas nos últimos 12 meses, até agosto. Além da supressão de 31,6 mil postos em três anos, há 2,5 mil empregados em regime de lay-off (suspensão temporária de contratos de trabalho) e 19,8 mil no Programa de Proteção ao Emprego (PPE), cumprindo jornadas diferenciadas.
O presidente da Anfavea, Antonio Megale, atribuiu a fatores pontuais – greve na Volkswagen e realização dos Jogos Olímpicos – parte das dificuldades do setor. Mas, em razão do alto valor dos veículos, uma recuperação sustentável dependerá de aspectos macroeconômicos, entre os quais a queda do juro. (O Estado de S. Paulo)