O Estado de S. Paulo
Pela primeira vez, a tradicional marca Jeep, da Chrysler, vai lançar um veículo global fora de sua matriz, os Estados Unidos. A nova geração do utilitário Compass, já em produção na fábrica da Fiat Chrysler Automobiles (FCA) em Goiana (PE), será lançada no fim do mês em evento com a presença do chefão da marca, Sergio Marchionne.
No fim do ano, o modelo será feito na China e em 2017 no México, de onde será exportado para EUA, Canadá e Europa. O Compass é o terceiro veículo a ser produzido em Pernambuco, na fábrica inaugurada em abril do ano passado e considerada a mais moderna do grupo.
O primeiro produto a entrar em linha de produção foi o Jeep Renegade, utilitário de pequeno porte e, depois, a picape Fiat Toro. “Com o próximo lançamento estaremos perto de operar com nossa capacidade, que é de 250 mil veículos ao ano”, afirma o presidente da FCA na América Latina, Stefan Ketter. No primeiro ano de operação completa com os três modelos, ele prevê produção de 200 mil veículos.
Foi para implantar a fábrica em meio a um canavial que Ketter voltou da Itália para o Brasil, há três anos. No fim do ano passado, foi alçado ao cargo de presidente do grupo na região.
O novo veículo será um intermediário entre o Renegade e o importado Cherokee. O preço inicial deve ficar acima de R$ 100 mil, segundo projeções do mercado. Embora o grupo diga que ainda escolhe o nome entre Compass e Patriot, a aposta geral é na primeira opção.
Com produção a todo vapor, a unidade de Goiana se diferencia da maioria das demais fabricantes, que operam com alta ociosidade. A própria fábrica da Fiat em Betim (MG), onde são produzidos 15 modelos, usa atualmente 60% de sua capacidade instalada.
São os resultados da Jeep que levarão o grupo a um equilíbrio financeiro neste ano, após uma perda em 2015, depois de sucessivos períodos de lucro. “Não teremos prejuízo”, informa Ketter, em contraste com a maioria das outras montadoras, que afirma operar no vermelho.
É também a soma das vendas da FCA que levam o executivo a desconversar quando questionado sobre a perda da liderança de mercado da Fiat – após 13 anos como a número um em vendas –, para a General Motors. “Temos uma estratégia clara de FCA e, juntando as marcas, especialmente a Jeep, somos líderes de mercado, com distância interessante”, diz Ketter.
A denominação de FCA passou a ser adotada em 2014, após a consolidação da fusão das empresas, com a compra da americana Chrysler. Juntas, as marcas venderam neste ano, até agosto, 327,7 mil veículos. Só a Fiat vendeu 202 mil, 35% menos que em 2015. O resultado da GM, de 217,8 mil unidades, é 16,8% inferior ao de um ano atrás. A Jeep, com os produtos nacionais, vendeu 35,6 mil unidades, mais do que o dobro do ano passado.
“Não queremos ser líderes por qualquer preço, temos de manter a calma, pois, sem rentabilidade e sem sustentabilidade não consigo aprovar projetos futuros”, diz Ketter. “O market share (participação no mercado) é desejável, mas não é absolutamente necessário.”
Empregos
Apesar da forte queda nas vendas, ante um mercado total que recuou 23%, a Fiat não fez ajustes significativos em seu quadro de pessoal em Betim. Segundo o executivo, não houve demissões em massa ou planos voluntários, mas as saídas normais de pessoal não foram repostas. O grupo tem hoje 18,5 mil funcionários em Minas e 3 mil em Pernambuco. Neste ano, a fábrica mineira teve três paradas parciais, uma de 20 dias e duas de 10 dias.
Grande aposta da Fiat, o compacto Mobi, lançado em abril, já teve o preço reduzido e a meta de vendas mensais baixou de 7 mil para 4 mil. “Talvez tenhamos subestimado o nível do mercado, pois estava extremamente competitivo nesse segmento. Se tivermos normalização do mercado, o carro volta a ter valorização forte”, diz Ketter. Em duas semanas, entra em operação o sistema que permite ao motorista transformar o smartphone em central multimídia. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)