Renault Oroch automática une jeito “diferentão” a falhas do Duster

UOL Carros

 

Renault Oroch quis ser pioneira ao inaugurar o segmento de picapes “médio-compactas” no Brasil – em setembro de 2015, apenas 11 meses depois de aparecer em formato de conceito no Salão de São Paulo 2014 -, mas só no final de junho deste ano completou sua gama e começou a oferecer câmbio automático.

 

Embora a marca possa alegar que a estratégia seguiu conforme planejado por conta de adaptações fabris (ela é produzida em São José dos Pinhais, no Paraná), este, certamente, é um dos motivos que explicam tamanha desvantagem da Oroch em relação à rival Fiat Toro em números de vendas – de acordo com a Fenabrave, são 20.056 unidades emplacadas do modelo da Fiat de janeiro a julho (média de 2,9 mil por mês), contra 7.738 registros da picape da Renault (1,1 mil/mês).

 

Ou seja, nas ruas, para cada Oroch existem três Toro. Com a nova opção de transmissão, o modelo da Renault consegue equilibrar esse embate?

 

Tudo começa pela base: enquanto a picape da Fiat é construída sobre a plataforma do Renegade, um projeto global que surgiu em 2014, a Oroch é montada sobre a plataforma de Sandero e Logan de geração anterior – analogicamente falando, é como se um software de última geração lançado em 2015 fosse executado no Windows 7, de 2009… Até funcionaria, mas teria resquícios de coisa ultrapassada.

 

Relativamente antiquado, o motor 2.0 16V com 143/148 cv e 20,2/20,9 kgfm de torque (gasolina/etanol) ainda teria fôlego suficiente para rodar na cidade e fazer pequenas viagens de fim de semana se não tivesse boa parte de sua energia sugada pelo defasado câmbio automático de quatro marchas, o mesmo utilizado pelo Duster “fechado” – este câmbio, sim, totalmente inadequado, talvez como um Windows XP nos dias de hoje.

 

Com isso, por conta da transmissão da década passada e do peso elevado (1.375 kg), o consumo é ruim. Com tanque de combustível com capacidade para 50 litros (mesmo volume que o de um subcompacto como o VW up!, por exemplo, e 10 l menor que o da Fiat Toro), a unidade avaliada por UOL Carros registrou média de 4,3 km/litro de etanol na cidade, sempre com ar-condicionado ligado – o computador de bordo chegou a apontar 3,2 km/l durante situações de trânsito intenso, mas subiu para 5,4 km/l em situações mais livres.

 

Isso significa 215 quilômetros de autonomia com um tanque cheio de etanol, número pífio para um veículo desse porte e dessa categoria. Se considerarmos o iminente lançamento da versão 4×4 flex, números podem ser ainda mais sombrios.

 

Renault afirma que o botão “Eco” pode melhorar em até 11,5% esses valores, mas ele fica tão escondido sob o painel de comandos do ar-condicionado, numa região pouco “frequentada” do console central, normalmente utilizada por porta-copos e tomadas de 12W, que muitos clientes sequer vão lembrar da função.

 

A marca fez mudanças em junho a fim de otimizar a eficiência energética que realmente melhoraram os números de Duster e Duster Oroch no Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBEV) para letra A na categoria “picapes” – o Inmetro divulga 5,9 km/l na cidade e 7,6 km/l na estrada com etanol; 8,6 km/l e 10,8 km/l, respectivamente, com gasolina.

 

Mas não fique preocupado, pois sua amizade com o frentista não irá esfriar tão cedo: apesar da nota A no segmento, a posição na no geral ainda é letra C.

 

Evoluções

 

Nem tudo são trevas no carro da Renault: existem melhoras significativas na linha 2017, como o reposicionamento dos botões que ajustam os retrovisores externos, que antes ficavam em um local nada anatômico, embaixo do freio de mão, e agora estão na porta do motorista, acima dos comandos dos vidros elétricos.

 

Além disso, o jeitão diferente do visual traseiro chama a atenção pelas ruas, mesmo quase um ano após o lançamento, algo que não acontece mais com a Toro.

 

Tela tátil, mesmo ligeiramente posicionada um pouco mais abaixo de onde deveria, é uma das melhores que existem em relação à qualidade e intuitividade em carros de até R$ 80 mil, com assimilação igual ou até melhor que a do sistema MyLink, da Chevrolet, uma das referências do mercado.

 

Suspensão é extremamente agradável, bem como o espaço interno, embora a qualidade dos materiais e do plástico interno não estejam no mesmo patamar do preço. Atualmente, uma Oroch automática parte de R$ 77.900, mas com bancos parcialmente em couro (R$ 1.700) e kit de personalização visual (Pack Outsider, R$ 3.490) – que inclui basicamente protetor de para-choque com faróis auxiliares, molduras nos para-lamas e capota marítima -, o valor final chega a R$ 83.090.

 

A Fiat Toro 1.8 flex com câmbio automático de seis marchas parte de R$ 81.700.

 

Recupera ou não?

 

Voltamos à pergunta do topo: com o novo conjunto, a Oroch consegue se recuperar perante a rival e pelo menos chegar perto em números de emplacamentos?

 

A resposta obviamente virá com o tempo, mas depende principalmente da agressividade que a Renault propuser ao consumidor em termos de estratégias comerciais – descontos, ofertas tentadoras ao usado dado como parcela de entrada, taxa zero de juros ou planos de manutenção com preços fixos mais atraentes, por exemplo, fazem diferença na hora da decisão do cliente.

 

Agora, se a escolha continuar acontecendo levando-se em consideração apenas a qualidade geral do carro, sem considerar os diferenciais externos acentuados acima, a Toro var continuar reinando por ser feita em um “berço” mais moderno. (UOL Carros/André Deliberato)