Carplace
Quando a Kia tirou a capa que cobria as quatro gerações do Sportage, durante o evento de apresentação da mais nova encarnação do modelo, foi curioso observar que o SUV que sai de linha ainda é bastante atual em termos de estilo. Mas bastou colocar o modelo novo ao lado do anterior para notar que havia, sim, espaço para evoluir. Nesta quarta geração, a segunda desenvolvida sob a batuta do renomado designer Peter Schreyer, tanto o estilo quanto o refinamento foram elevados a um outro patamar. Patamar este que mostra a intenção da Kia de brigar com os grandes. Não à toa carros como Audi Q3, BMW X1 e Mercedes GLA foram citados como rivais do Sportage 2017.
O que é?
Ao adotar uma dianteira alta, com as laterais mais elevadas e uma traseira de lanternas finas que atravessa toda a tampa, o Sportage assume de vez seu lado alemão – é clara a semelhança com o Porsche Macan. Mesmo assim, o modelo tem personalidade própria, trazendo detalhes bacanas como os faróis de neblina em LEDs (divididos em quatro “canhões”), a grade com formato “nariz de tigre” e as rodonas aro 19? (itens exclusivos da versão EX topo de linha, menos a grade). O SUV está 4 cm mais longo, 3 cm mais alto e com entre-eixos 3 cm maior.
A construção refinada da carroceria, agora mais rígida e com melhor resistência a impactos, também se espelha no interior. Esqueça o painel de plástico rígido do Sportage anterior. O novo tem a parte superior toda de espuma injetada, macia ao toque, e ainda traz uma costura como se fosse forrado de couro. O material suave também reveste a parte superior das portas, somando-se a detalhes em black piano e aço escovado no interior, formando um ambiente de bom gosto. O quadro de instrumentos ficou mais limpo e claro de ler, enquanto o computador de bordo ganhou funções como velocímetro digital (embora inexplicavelmente não traga as medições de consumo).
Na versão EX avaliada, os bancos dianteiros incorporam ajustes elétricos (levando mais conforto também ao carona) e o volante tem a base reta, além de borboletas para trocas manuais de marcha. Novidade também fica por conta da coluna de direção ajustável em altura e também profundidade – falta sentida do modelo anterior. O espaço interno foi ampliado, de modo que mesmo os mais altos ficarão folgados no banco traseiro, além de ganharem mais possibilidades de inclinação do encosto (até 39 graus) e saída do ar-condicionado exclusiva. Já o porta-malas poderia ser mais bem aproveitado: a Kia fala em 868 litros (medição até o teto), mas o uso de estepe integral (aro 17? na versão LX e 19? na EX) rouba muito espaço do compartimento, deixando-o raso.
Sob o capô, o Sportage mantém o motor 2.0 16V Flex de 167 cv de potência e 20,3 kgfm de torque, sempre ligado a um câmbio automático de seis marchas e com tração dianteira. As suspensões são independentes nas quatro rodas, com nova calibração, enquanto a direção elétrica ganhou mais firmeza.
Como anda?
Logo ao assumir o comando do Sportage notamos que ele está mais chique por dentro. O acabamento mantém alguns plásticos rígidos, mas todos de boa qualidade e com botões de toque suave, que fazem boa figura mesmo diante dos alemães da concorrência – abrindo vantagem dos orientais Hyundai ix35, Honda CR-V e Toyota Rav4. A posição de dirigir agora pode ser ajustava mais para baixo e o volante de base reta tem excelente pegada, além das borboletas bem destacadas. O acelerador encrustado no chão e o pedal de freio firme também agradam.
Ao dar a partida por botão, o motor parece mais bem isolado, sensação reforçada pela cabine bem hermética. O rodar do Sportage está mais silencioso e menos áspero, com menor nível de ruído tanto mecânico quanto do vento contra a carroceria. O test-drive foi curto e quase sem curvas no caminho, mas deu para notar que a suspensão foi bem calibrada (mais para firme, mas sem ser dura nos buracos) e a direção está mais pesada em velocidades de estrada, transmitindo segurança ao motorista.
O motor 2.0 entrega respostas razoáveis nas retas, mas há clara falta de torque nos aclives. Basta pintar uma subida para que o câmbio reduza uma marcha e o motor comece a berrar. Lembre-se que estamos falando de um SUV de 1.570 kg com 20,2 kgfm disponíveis só a elevadas a 4.700 rpm, ou seja, o motor demora a “encher”. A Kia instalou um seletor de modo de condução (normal, econômico ou esportivo), mas confesso que não senti muita diferença entre eles. Para encarar os alemães downsizing, sendo o GLA com motor 1.6 turbo e o Q3 com 1.4 turbo (com torque ao redor dos 25 kgfm logo em 1.500 giros), o Sportage deixou a receita na Europa: lá fora ele ganhou um motor 1.6 turbo com câmbio de dupla embreagem e sete marchas, conjunto que a princípio não será vendido aqui.
Com o 2.0 aspirado, o Sportage foi feito para passear sem pressa. Não chega a ser irritante nas retomadas como o CR-V, mas não pareceu ter a esperteza do último ix35 que avaliamos, que tem o mesmo powertrain, mas pesa menos. O câmbio segue o jogo do conforto, com trocas suaves mesmo em condições de aceleração total, mas também não é dos mais rápidos nas mudanças. Na estrada, a sexta garante giro abaixo de 3 mil rpm a 120 km/h.
Com esse conjunto, o novo Kia também não passou de uma nota C no selo de eficiência energética: medições do Inmetro indicam médias de 6 km/l na cidade e 7,5 km/l na estrada, usando etanol, e de 8,7 km/l e 11 km/l, respectivamente, quando abastecido com gasolina. Números que talvez expliquem a falta da indicação do consumo médio no computador de bordo…
Quanto custa?
Oferecido nas versões LX e EX, o Sportage 2017 tem até um preço de partida atraente: R$ 109.990. Mas o modelo de entrada peca ao deixar de oferecer itens primordiais nesta faixa de preço, como controle de estabilidade e airbags laterais – vem apenas com os obrigatórios freios ABS e airbags frontais. Por dentro, o LX tem bancos de tecidos e ar-condicionado analógico, mas pelo menos há uma câmera de ré com visor no rádio.
Sendo a versão básica pobre de equipamentos, a Kia aposta mais forte no Sportage EX, de R$ 134.990, que deverá responder por 70% das vendas. É nela que estão os itens mais desejados, como ar digital de duas zonas, central multimídia com tela de 7? e GPS, bancos dianteiros com ajustes elétricos, teto solar panorâmico, retrovisores com seta embutida e rebatimento elétrico, faróis de neblina e lanterna de LEDs, bancos de couro e partida por botão. Fora isso, a segurança é reforçada com o controle de estabilidade e os airbags laterais e de cortina, além do controle de descidas e do alerta de ponto cego nos retrovisores externos.
Pela primeira vez em 24 anos de Brasil, a Kia passa a oferecer revisões com preço fixo – primeiro para o Sportage e depois para o restante da linha, promete o importador José Luiz Gandini. No caso do SUV, são R$ 3.667,51 para as seis revisões até 60 mil km, obrigatórias para manter a garantia de cinco anos. A previsão da marca é que o Sportage domine as vendas da Kia no Brasil, respondendo por mais de 300 unidades das 400 em média que a marca pode trazer sem pagar o Super IPI.
Mais animado do que nos últimos anos, quando a Kia foi prejudicada pelo sistema de cotas, Gandini disse já ter conversado com o presidente em exercício Michel Temer para que haja mudanças na próxima fase do Inovar Auto – tirando da cota, por exemplo, os carros vindos do México. A ideia do importador é trazer de lá o novo Cerato, em setembro, e o compacto Rio em 2017.
Ficha técnica: Kia Sportage EX 2017
Motor: dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.999 cm3, comando duplo variável, flex; Potência: 156/167 cv a 6.200 rpm; Torque: 18,8/20,2 kgfm a 4.700 rpm; Transmissão: câmbio automático de seis marchas, tração dianteira; Direção: elétrica; Suspensão: independente McPherson na dianteira e multilink na traseira; Freios: discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com ABS; Rodas: aro 19? com pneus 245/45 R19; Peso: 1.570 kg; Capacidades: porta-malas 868 litros (até o teto), tanque 62 litros; Dimensões: comprimento 4.480 mm, largura 1.855 mm, altura 1.665 mm, entre-eixos 2.670 mm. (Carplace/Daniel Messeder)