Tempos ainda difíceis para as montadoras

O Estado de S. Paulo

 

Embora gere algum ânimo para o setor, a expectativa de que a demanda doméstica pode começar a se aquecer nos próximos meses até alcançar um bom nível em 2017 não afasta o grande problema que assombra a indústria automotiva: como encontrar meios para vencer essa fase crítica sem desmontar ou reduzir sua estrutura. Em abril, o estoque de veículos nas concessionárias e montadoras era de 251,7 mil veículos, suficiente para 46 dias de vendas, quando o volume considerado razoável é de 30 a 35 dias. Os pátios vêm sendo ampliados a cada mês: a indústria produziu 169,8 mil unidades em abril e só vendeu 162,9 mil, segundo a Anfavea.

 

A situação se arrasta há mais de um ano. A indústria automotiva opera com menos da metade de sua capacidade (5 milhões de veículos por ano), prevendo­se que em 2016 a produção alcance, no máximo, 2 milhões de unidades.

 

Tem­se buscado amenizar a necessidade de reduzir a força de trabalho com a concessão de férias coletivas, licença remunerada, sistemas de lay­of e, desde agosto de 2015, com o Programa de Proteção ao Emprego (PPE), que permite redução da jornada para quatro dias por semana e do salário, sendo a metade da perda coberta pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Das 90 empresas que aderiram ao PPE, 17 são dos setores automotivo e de autopeças.

 

O espaço de manobra, porém, vem encolhendo. As indústrias agora parecem estar redimensionando sua produção no País por tempo indeterminado. Tem havido casos em que licenças remuneradas são prorrogadas ou novos períodos de férias coletivas são concedidos, mas os prazos previstos pelo PPE estão vencendo para milhares de trabalhadores e se passou a falar também em quadros “excedentes”.

 

Para estes, duas grandes montadoras propuseram em maio Programas de Demissão Voluntária (PDVs), com os quais pretendem reduzir o número de trabalhadores que deixaram de ter funções operacionais. O número de dispensas nesses dois casos chega a 2.400. Fala­se em mais de 2 mil excedentes em outras fábricas. O fato é que, de janeiro a abril de 2016, foram fechadas 15,8 mil vagas na indústria, número que, segundo um executivo de uma montadora justificou ao Estado, seria “pontual”.

 

O que se pode esperar é que, em um ambiente de maior confiança, haja entendimentos entre a indústria e os trabalhadores para reduzir ao mínimo o desemprego no setor. (O Estado de S. Paulo/Celso Ming)